Nos últimos 50 anos, o Brasil mudou como nenhum outro país no mundo. De acordo com um relatório produzido pela ONU, não há registro de uma transformação tão profunda na distribuição demográfica dos habitantes. Se no final da década de 60 apenas metade dos brasileiros morava em áreas urbanas, atualmente o número está acima de 80%. Sob qualquer aspecto que se analise esses dados, a conclusão óbvia é que o Brasil não será uma nação realmente desenvolvida enquanto seus centros urbanos não se tornarem lugares melhores para se viver. O retrato preciso da evolução das cidades brasileiras será fornecido por um levantamento nascido da parceria entre ISTOÉ e Austin Rating, que prepararam o mais abrangente levantamento do nível de desenvolvimento socioeconômico dos 5.565 municípios brasileiros. Realizado de forma inédita, o estudo utilizou mais de 500 indicadores de diferentes fontes para mapear onde estão as melhores práticas de gestão. Como foi concebido a partir de dados oficiais, o prêmio é uma chancela e um selo de qualidade das boas administrações do País. A um ano das eleições municipais, o estudo representa um instrumento vital para que os prefeitos apresentem o legado de suas gestões.

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“Eu sempre defendi a posição de que é mais fácil mudar o País a partir das cidades”, diz Jaime Lerner, ex-governador do Paraná, ex-prefeito de Curitiba e um dos mais lúcidos urbanistas brasileiros. “A cidade é a síntese da sociedade.” Construir um País melhor depende, portanto, de municípios bem equilibrados do ponto de vista político, econômico, social e ambiental, mas isso só será possível se os governantes tiverem o real compromisso de administrá-los de acordo com o interesse coletivo. Lerner e um grupo cada vez maior de pensadores urbanos acreditam que as cidades devam ser planejadas a partir da convergência de três fatores primordiais: mobilidade, sustentabilidade e sociodiversidade. No primeiro aspecto, o Brasil tem falhado. “As cidades estão crescendo de forma dispersa e isso é a pior coisa que pode acontecer”, diz Ermínia Maricato, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. As pessoas percorrem grandes distâncias para ir de casa ao trabalho, e os deslocamentos provocam efeitos adversos como o aumento da poluição e congestionamentos. Um contraponto a isso pode ser a inclusão digital, que aproxima os cidadãos, mas a conectividade ainda está na agenda de um grupo restrito de gestores públicos.

A questão da sustentabilidade envolve não apenas a preservação ambiental, mas também a saúde financeira dos municípios, porque só ela é capaz de oferecer as condições para a melhoria da qualidade de vida da população. A sociodiversidade talvez seja a vertente mais importante. Não faz sentido, para uma cidade que se quer amigável, separar ricos e pobres, brancos e negros, trabalhadores e empresários. A convivência e a tolerância entre grupos de características distintas é que promove uma real transformação. “Quanto mais separação, mais as cidades sofrem”, diz Enio Moro Júnior, coordenador do curso de arquitetura e urbanismo da Faculdade de Belas Artes, de São Paulo.

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"Sempre defendi a posição de que é mais fácil mudar o País a partir das cidades"
Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba

Apesar dos desafios, há mudanças louváveis em curso no País, como demonstra o Ranking “As Melhores Cidades do Brasil”, que vai premiar municípios de pequeno, médio e grande porte avaliados de acordo com quatro pilares fundamentais: indicadores sociais, econômicos, fiscais e digitais (leia quadro). A lista de vencedores será divulgada no segundo semestre. Ao todo, serão distribuídos 84 prêmios. Nada mais justo para quem está ajudando a fazer do Brasil um país melhor.

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Fotos: Shutterstock; Antônio Costa/Gazeta do Povo/AE; Adriano Vizoni/Folhapress