13/12/2000 - 10:00
A história se repete a cada eleição: os candidatos da esquerda são apontados por seus adversários como fracos no combate à violência urbana, um dos maiores pesadelos da população brasileira. Na campanha pela Prefeitura de São Paulo, por exemplo, o então candidato pelo PPB Paulo Maluf utilizou fartamente essa munição contra sua concorrente, a prefeita Marta Suplicy, acusando-a de defensora de bandidos. Apesar de ressaltar a importância de atacar a causa principal da violência – as mazelas sociais –, a esquerda tem dificuldade de enfrentar o debate por outro lado: o do combate aos sintomas através do fortalecimento e preparo do aparato policial.
Agora, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, coordenador do Instituto Cidadania –ONG criada em abril de 1999 para elaborar projetos de políticas públicas –, resolveu colocar o dedo na ferida, promovendo um debate sobre o assunto com 30 representantes de governos dos mais variados partidos e especialistas em segurança pública, como o ouvidor da Polícia de São Paulo, Benedito Domingos Mariano, o ex-coordenador de Segurança, Justiça, Cidadania e Defesa Civil do Rio de Janeiro, Luiz Eduardo Soares, major Júlio César da Costa, criador do conceito de Polícia Interativa do Espírito Santo e o coronel da reserva do Exército Geraldo Cavagnari, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp.
A primeira discussão começou na terça-feira 12, seis meses depois do lançamento do Plano Nacional de Segurança Pública de FHC. O lançamento de um projeto alternativo será no fim de 2001. Lula ressaltou que os projetos do Instituto Cidadania não levam o carimbo do PT. “Não queremos patentear o projeto, que não pertence a nenhum partido. É de domínio público. Quem quiser que o coloque em prática. Há dois temas que mais preocupam o Brasil hoje: a miséria e a segurança pública. A segurança ataca pobres e ricos”, explicou Lula.
O Instituto Cidadania já realizou vários debates e propostas, com a participação de figuras que causaram arrepios entre os petistas, como o empresário Antônio Ermírio de Moraes, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) e o governador Mário Covas (PSDB), entre outros. Desta vez o inusitado não está nos convidados, mas no assunto.
“Há um déficit na esquerda brasileira com relação às políticas de segurança pública porque existe um bloqueio ideológico. Isso levou a uma postura de passividade da esquerda. É claro que é preciso atacar as causas sociais que provocam a violência, mas os sintomas também matam e por isso têm de ser enfrentados”, diagnosticou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Marcos Rolim (PT-RS). No primeiro encontro, apenas uma certeza: há muitos pontos polêmicos, entre eles o papel das guardas municipais e a proposta de unificação das polícias civil e militar. A idéia que ganhou mais apoio é a de unificar o sistema de segurança pública no País. Rolim levantou outro tema novo dentro da esquerda: o dos direitos humanos dos policiais. “Por ganharem pouco, eles acabam sendo obrigados a fazer bico como segurança durante as folgas. De cada dez homicídios de policiais, oito acontecem neste período”, constatou.