28/05/2008 - 10:00
PRÊMIO A vitória no Taiti engordou a conta bancária de Bruno em US$ 30 mil
Das 11 etapas que compõem o Circuito Mundial de Surfe, há uma que boa parte dos competidores não se importaria em riscar do calendário. Nenhum outro lugar oferece tanto perigo à vida dos surfistas profissionais quanto Teahupoo, no Taiti. Foi lá que o brasileiro Neco Padaratz quase morreu afogado, em 2000, ao ficar preso a uma caverna de coral debaixo da água. Dias antes, o taitiano Briece Taerea, profundo conhecedor do local, não resistiu ao violento impacto da onda com a bancada, num trágico acidente fatal.
Nesse ambiente inóspito, o carioca Bruno Santos, 25 anos, conquistou o título do Billabong Pro, na semana passada. O triunfo pôs fim ao jejum de seis anos sem vitória de surfistas brasileiros na primeira divisão do Circuito Mundial. No caminho ao topo do pódio, ele derrotou os australianos Mick Fanning e Taj Burrow, atuais campeão e vice-campeão do mundo, e o americano CJ Hobgood, número 1 do ranking em 2001. “É o dia mais feliz da minha vida”, afirmou, com o troféu nas mãos. Se, durante a final, as ondas não passavam de um metro, duas semanas antes, quando as sirenes tocaram em alerta pedindo a todos que deixassem o mar, Santos mostrou coragem ao ser um dos únicos três bravos a encarar na remada vagalhões de até cinco metros – todos os outros surfistas na água entravam já de pé nas ondas com o auxílio de um jet ski. “Foi uma das primeiras vezes em que realmente fiquei com muito medo surfando”, confessa.
CELEBRIDADE Ao chegar ao Brasil, Bruno desfilou em carro aberto em Niterói
“Quando vi as fotos, liguei para o Bruno, quase gritando: ‘Vou te matar. Quer me deixar viúva?’”, conta Deborah Trevisani, 25 anos, esposa do surfista. O casal tem um relacionamento de uma década e uma filha, Sophia, que completou dois anos três dias antes da vitória histórica dele. O triunfo no Taiti não foi surpresa para quem acompanha a carreira do surfista. “É unânime hoje, entre a mídia internacional, que Bruno é um dos cinco melhores do mundo em ondas grandes e tubulares para a esquerda”, diz Eduardo Rezende, o Truta, comentarista do canal Sportv e ex-técnico do atleta. Numa comparação com o futebol, os surfistas especialistas em tubos seriam os camisas 10 de seus times, pelo estilo elegante com que deslizam sobre a prancha.
Filho de um casal de comerciantes do ramo de confecções, Bruno desenvolveu o gosto aguçado pela manobra clássica do surfe na praia de Itacoatiara, em Niterói, onde nasceu e vive até hoje em uma confortável casa próxima da orla. O corpo franzinho (tem 1,65m de altura e 63 quilos) conferiu-lhe desde cedo o apelido de Bruninho e torna árdua a tarefa de encontrar uma bermuda tamanho adulto que se encaixe ao seu quadril. “O engraçado é que ele sempre comeu para caramba e nunca engordou. Quando a gente almoça junto até brinco com ele: ‘Haja fome’”, entrega Truta. É um apetite igual ao que ele demonstra quando as ondas crescem e separam os meninos dos homens. Aí, o pequeno Bruno vira um gigante.