A indústria brasileira registrou em outubro a respeitável taxa de 7,2% de crescimento na comparação com o mesmo mês de 1999, o melhor desempenho desde dezembro de 1994 e o segundo melhor dos últimos 25 anos. A informação, divulgada semana passada, veio acompanhada de outros indicadores relevantes que mostram a recuperação da economia depois de dois anos de desempenho medíocre, em 1998 e 1999. Com as vendas em alta, as empresas trataram de aumentar a produção e reabriram desde janeiro 900 mil postos de trabalho dos 3,2 milhões fechados ao longo da década de 90. O setor industrial registrou ainda um recorde na utilização da capacidade instalada. E a arrecadação de impostos ligados diretamente ao ritmo do comércio, como o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), também cresceu. No caso de São Paulo, bateu recorde histórico em novembro.

Para muitos empresários, não há dúvidas, o momento é de otimismo. O presidente da Siemens do Brasil, Hermann Wever, por exemplo, analisa da seguinte forma a conjuntura: “O Natal vai ser muito bom. O crescimento do consumo que está acontecendo agora é o correto. Ele vem depois dos investimentos e não se trata de uma bolha de consumo.” Para 2001, Wever aposta em um crescimento de 4,5%. Crescer mais que isso só com uma reforma tributária que reduza os impostos que incidem sobre as exportações. Já o presidente do Eletros, o sindicato que reúne as indústrias do setor de eletroeletrônicos, Paulo Saab, se considera “realisticamente otimista”. De acordo com ele, a produção das fábricas instaladas no País deve crescer pouco mais de 10% no ano. “O resultado é promissor, já que vínhamos de dois anos de queda da produção, em 1998 e 1999, quando recuamos, respectivamente, 18% e 20%”, afirma Saab. Mesmo com a recuperação, o total de empregos diretos do setor, hoje em 40 mil, já foi maior. Em 1995, eram 50 mil pessoas.

A maior incógnita, ao menos no curto prazo, é o comportamento da economia americana. Na semana passada, por sinal, o mercado financeiro nacional mergulhou na euforia por conta de uma frase do presidente do banco central dos Estados Unidos, Alan Greenspan, o homem que dita o ritmo da economia mundial. Em uma palestra a banqueiros de Wall Street, em Nova York, Greenspan deu a entender que pode mudar o rumo da sua política monetária. Em vez de os juros continuarem subindo, eles poderão cair em breve, o que abriria espaço para as economias de todo o mundo crescerem mais em 2001. Greenspan só não disse quando nem como isso ocorrerá. Mas foi suficiente para fazer as bolsas dispararem, nos Estados Unidos e aqui. A de São Paulo acumulava uma desvalorização de 17% no ano, subiu 5% em poucas horas. Em Nova York, a alta passou dos 10%, no caso das ações negociadas na Nasdaq, a bolsa das empresas de tecnologia de ponta.

Vários analistas, entretanto, acham que é o caso de controlar o entusiamo, já que alguns nós importantes precisam ser desatados – tanto no front interno quanto no externo – para a atual safra de estatísticas positivas durar mais que uns poucos semestres.

Mania – Um exemplo dos problemas é o DVD, o aparelho digital que reproduz vídeo e som, a mania deste Natal. As vendas no ano devem superar as 150 mil unidades, contra 30 mil vendidas no ano passado. O resultado desse crescimento sobre a economia nacional, entretanto, não será nenhuma maravilha: como mais de 80% dos componentes são importados, o número de empregos gerados é baixo e os efeitos sobre as contas do País não são positivos. Cada DVD vendido significa uma saída a mais de dólares para pagar os fornecedores. Movimentos como esse trazem à tona uma das principais fragilidades da recuperação em curso: cada ponto percentual de crescimento representa um incremento importante nas importações, tanto por parte das indústrias como das pessoas físicas. Por conta disso, a balança comercial brasileira deve fechar o ano com déficit. “As empresas dependem hoje mais do Exterior para produzir e o déficit comercial acaba inibindo a recuperação”, considera o economista Márcio Pochmann, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Crítico frequente da política econômica do governo, Pochmann destaca nas estatísticas recentes o fato de a indústria ser a responsável por um entre três empregos criados ao longo do ano. “Diziam que a indústria não criaria mais empregos como antigamente, e os números mostram que isso não era verdade. As empresas passaram a usar mais da sua capacidade produtiva, o que é importante. Mas a incógnita é se elas realizarão novos investimentos para ampliar essa capacidade”, avalia o economista.

Prudência – Essa discussão pode parecer muito distante do bolso do consumidor, mas até o comércio das lojas tem relação com esses humores. As vendas no varejo, por exemplo, que neste ano devem crescer 11%, dificilmente manterão esse ritmo caso a conjuntura internacional se complique. A prudência, portanto, é a melhor estratégia para o consumidor, como diz o funcionário público José Edmílson da Silva, que na semana passada comprava uma tevê de 29 polegadas em uma loja de São Paulo. “Procuro fugir das prestações e só compro depois de muito planejamento. Estou há seis meses me organizando para comprar a tevê”, diz ele. Alan Greenspan aprovaria.