Açaí, cupuaçu, guaraná, andiroba e macela. Frutas e plantas como essas, nativas de florestas e matas, estão enriquecendo sabonetes, cremes e loções da indústria de cosméticos. Uma das principais fornecedoras dos ingredientes exóticos é a Amazônia. Respaldadas em pesquisas, as empresas de cosméticos explicam que o interesse em buscar recursos naturais da terra se baseia nos poderes medicinais da flora dessas regiões. As espécies seriam ricas em substâncias que hidratam e previnem o envelhecimento da pele. Alguns médicos vêem com ressalvas esses trabalhos. “É preciso divulgar os estudos sobre os benefícios das plantas”, afirma Cássio Vilaça, dermatologista de São Paulo.

Outro argumento dos fabricantes é o anseio das pessoas por consumir produtos naturais. Parece, porém, que o atrativo vai além disso. “Também é uma forma de os fabricantes alcançarem mais espaço no mercado internacional, já que o mundo todo está voltado para a exploração da biodiversidade da Amazônia”, afirma Artur Gradim, da Associação Brasileira de Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. As importadoras de cosméticos estão atentas a essa tendência. A PH Arcangeli, de São Paulo, por exemplo, tem produtos que destacam a presença de ingredientes naturais nas respectivas fórmulas. Um deles é o gel para banho da Clarins, com camomila, que promoveria o relaxamento.

Para não ficar atrás na disputa desse mercado, os fabricantes brasileiros já arregaçaram as mangas. Recentemente, a Natura colocou à disposição dos consumidores atraídos pelo apelo da floresta a linha Ekos, composta de gel, hidratante e sabonete esfoliante, entre outros itens. Os potinhos contêm extratos naturais da Amazônia e de outras reservas florestais. Alguns dos ingredientes são a castanha-do-pará, o maracujá e o buriti. De acordo com a empresa, esses componentes possuem ácidos graxos, substâncias que hidratam e deixam a pele macia.

Outra que aposta fichas nos poderes florestais é a indústria Chamma da Amazônia, de Belém, que produz perfumes, sabonetes e até sachês. A empresa se apóia em pesquisas da Universidade Federal do Pará (UFPA) para garantir a eficácia terapêutica de sua linha de cosméticos. É o caso do sabonete de andiroba. “A planta possui um composto, perpenos, que é antiinflamatório e ajuda a tratar as lesões de pele”, afirma o engenheiro químico João Carlos Monteiro, da Chamma.

Limpeza – Quem também vai entrar na onda amazônica é a Avenca Cosméticos. No próximo ano, a empresa pretende lançar uma linha de produtos com extratos da floresta. Por ora, a fabricante extrai da avenca o bioavenol. Associada à vitamina B5, essa substância é adicionada a hidratantes e tônicos para auxiliar a limpeza da pele.

Já a Pierre Alexander recorreu ao exótico fruto do illipê, outra planta brasileira, para incrementar produtos que nutrem a pele. Até mesmo as tinturas de cabelo estão sendo feitas com plantas. A Niasi criou um produto para ser usado antes do tingimento. Produzido com as plantas confrei, alcaçuz e bardana, ele protege o couro cabeludo dos efeitos da tintura, de acordo com o fabricante.

Com tanta gente interessada na biodiversidade brasileira, há um projeto de lei no Senado para regulamentar a questão. “É preciso estabelecer regras para que não aconteça uma degradação da região”, diz Artur Gradim. Por enquanto, o governo fechou um contrato com a organização BioAmazônia, formada por cientistas. O objetivo da entidade é estabelecer parcerias com empresas para que se explore a região sem esgotá-la. Para concretizar o plano, está prevista a inauguração de um centro biotecnológico em Manaus no segundo semestre de 2001. Se tudo der certo, eles conseguirão resgatar e valorizar a tradição dos povos que há anos conhecem os benefícios das plantas e frutas da floresta. 

De dentro para fora
Empresas vendem suplementos nutricionais, chás e velas

As empresas de cosméticos encontraram mais um filão para explorar. Elas descobriram que a beleza interior também está no foco dos consumidores. Por isso, a indústria começa a investir em produtos que garantem o bem-estar do organismo e até dos ambientes. Os apetrechos vão desde rechauds com velas até suplementos nutricionais e chás. “Perceberam que o stress prejudica a beleza e causa envelhecimento precoce”, diz a psicóloga Marilda Lipp, de São Paulo.

A Avon fez uma parceria com a Bionatus, fabricante de
suplementos nutricionais naturais, como o guaraná. O fruto
possui cafeína, um estimulante. Ela se aliou ainda à Aromakrauft,
que comercializa aromatizadores e velas. O Boticário também entrou na linha zen, vendendo velas aromáticas. Já a Natura lançou uma linha de chás e o Instituto Anna Pegova, cápsulas com extrato de aveia – rica em fibras.