20/12/2000 - 10:00
Ao contrário do que acontecia nos anos 70 e 80, época em que qualquer rito tradicional era rotulado como “caretice”, casar de véu e grinalda voltou à moda. Mas a cerimônia ganhou toques de modernidade. Agora, não é mais a mãe e a sogra quem ditam as regras. Independentes, ganhando o próprio dinheiro, a maioria das noivas escolhe quem vai fazer o vestido, a maquiagem, qual será o bufê. A festa também não se resume só ao champanhe, ao bolo, à gravata picotada e àquela sonolenta música de fundo. O casamento dos anos 2000 é sofisticado, glamouroso. Não importa quanto se gaste (alguns chegam a custar até R$ 1 milhão). Todo mundo quer comer bem, beber, se divertir e dançar.
Depois da igreja, vale tudo para entreter os convidados. A exemplo do que acontece nos bufês infantis, os noivos distribuem lembrancinhas, como docinhos, chapéus, colares, ioiôs e até máquinas fotográficas polaróide para brincar durante a festa – que às vezes rola até as cinco da manhã, ao som de um bom DJ. Foi assim o casamento da produtora de vendas Daniela Perri Mendes Pinheiro, 27 anos, de São Paulo. Em setembro ela se casou e fez a festa no bufê Serra, um dos mais tradicionais da capital. A balada rolou até as 4h30 da manhã. “Casamento virou um programa. É um momento tão feliz que a gente quer compartilhar com a família e os amigos. O meu foi superanimado”, comemora ela. Mesmo quem nunca se imaginou de véu e grinalda começa a mudar os conceitos. Mônica Kruglianskas, 30 anos, dona de uma loja de design, em São Paulo, morou com o atual marido, Michael, por cinco anos antes de trocarem as alianças. Mas, com o desejo de comprar uma casa e ter filhos, veio a idéia de casar. “Eu adorei. Meu casamento não foi nada convencional. Meu marido é alemão e eu, judia. Fizemos uma união ecumênica, no Jockey Club e a festa rolou até as seis da manhã”, conta Mônica. Os amigos fotógrafos levaram a polaróide e até hoje eles não conseguiram chegar a um consenso para montar o álbum. Os dois se casaram em maio, mas não foi em homenagem ao mês das noivas. “Era uma época boa para a família dele vir da Alemanha”, diz.
Antecedência – Maio, é bom lembrar, já não é mais o mês predileto. Os noivos preferem dezembro e julho, para aproveitar as férias, e setembro, por causa da primavera. Depois, aí sim, pode ser maio. Nesses meses, é preciso reservar salões e igrejas com quase um ano de antecedência. Contratar serviços de profissionais especializados – que vão desde costureiros até fotógrafos – também requer uma programação. “O mercado cresceu tanto que, em oito anos, o número de profissionais pulou de 70 para 300”, conta a relações públicas Rosa Maciel. Ela edita o Guia dos Noivos, a “bíblia” dos casamentos, no qual é possível encontrar desde endereços de bufês, aluguel de carros e costureiros até dicas de onde passar a lua-de-mel. Rosa descobriu esse filão trabalhando com marketing e hoje, além de fazer o guia, criou uma operadora, a Central de Noivas, especializada em pacotes de festas de casamento e lua-de-mel. “Dou assessoria completa. A noiva atual é independente e quer que o casamento fique a cara dela. Só que muitas vezes se perde entre tantas opções. Então ela nos diz quanto quer gastar e fazemos um plano para a cerimônia”, explica ela.
Assim como Rosa, muita gente deixou o escritório e passou a fazer casamentos. A fotógrafa Nellie Solitrenick abandonou o corre-corre das redações de jornais e revistas para se dedicar aos noivos. Há um ano, quando deixou a direção de fotografia da revista IstoÉ Gente, ela resolveu usar sua experiência em cobrir eventos para fazer festas de casamento. Deu tão certo que hoje ela tem fotos marcadas para daqui a um ano. “Comecei com a Beatriz Flecha de Lima, filha do embaixador. Eu morava em Nova York, eles em Washington e queriam só profissionais brasileiros na festa”, lembra Nellie.
As fotos de Nellie são outro exemplo da configuração moderna do casamento. Nada de poses forçadas e tradicionais, como a do noivo bebendo na taça da noiva. Em vez disso, um beijo estalado e espontâneo, como aquele de Victor e Viviana Alloza, ambos com 25 anos. Os dois se casaram em setembro e fizeram uma festança numa casa in em São Paulo. “Eu não queria nem festa. Mas sabe como é, fui a primeira filha a casar, e então resolvi fazer tudo do meu jeito. Casei durante o dia e ficamos até tarde comemorando. Para completar, passei a lua-de-mel em Fernando de Noronha”, diz Viviana.
Doces – Além das danças, da música e do vinho Salton, eleito o melhor nacional da atualidade, o ponto alto das festas são os doces. Bufês capricham na quantidade – e qualidade. Muitas vezes, os noivos optam por doces artesanais, como os da Conceição Bem-Casados, de São Paulo. Como o nome já diz, Conceição e sua filha Margarida Amaral Lourenço dedicam-se a fazer somente bem-casados. O doce, imprescindível em casamentos, é um bolinho recheado com doce de leite coberto por uma calda. “Usamos a receita de minha avó”, afirma Margarida. Alguma coisa da tradição, portanto, ainda sobrevive.
Luxo em Hollywood |
Se a união será para sempre, parece apenas um detalhe. Mais importante do que a felicidade do casal é que a festa seja de arromba. Muita luz, brilho e holofotes nos noivos – afinal, a comemoração é para todos, mas os flashes são deles. Se antes era um evento careta, agora é um negócio (em todos os sentidos) chique, luxuoso, para ninguém botar defeito. Nesse esquema, os artistas de Hollywood estão dando um banho. O casamento da princesa Diana com o príncipe Charles, em 1981, que mais parecia um conto de fadas, virou uma bobagem perto das festanças dos superstars. A festa de Catherine Zeta-Jones, 31 anos, e Michael Douglas, 56, realizada em novembro, é um exemplo. O show começou muito antes de eles dizerem “sim”. Tiveram um filho (Dylan, agora com quatro meses) e só faltou os dois saírem pelas ruas com um alto-falante para explicar tintim por tintim as minúcias do contrato pré-nupcial. Um item vale ser lembrado: para cada ano que estiver com Michael, Catherine ganha U$ 1 milhão. A cerimônia para 350 convidados, todos ilustres, é claro, custou a bagatela de U$ 1,5 milhão. Foi regada a champanhe francês, lagosta, superbolo, muita valsa, damas de honra, joga-buquê e canjas de vários artistas, incluindo um miniespetáculo de Art Garfunkel. Melhor de tudo: todos, inclusive os noivos, se divertiram à beça. Até a irreverente Madonna entrou na onda do casamento. Dia 22, ela e o diretor de cinema Guy Ritchie vão oficializar a união com uma supercerimônia na Escócia, terra do noivo. Eles prometem uma balada-monstro. Uma catedral da cidadezinha escocesa de Dornoch vai abrigar mais de 800 convidados e a missa será animada pela reverenda Susan Brown, uma espécie de padre Marcelo deles. Susan é conhecida por celebrar missas divertidas, nas quais percorre os corredores da igreja de patins. A recepção será no Castelo Skibo, nas redondezas da Catedral, no litoral da Escócia. Madonna não ficou satisfeita com o local. Queria porque queria fazer a festa na ilha de Althorp House, onde está sepultada Lady Di. O pedido foi negado. Além de ser o santuário da princesa, a ilha é pequena para aguentar a bagunça de tantos convidados. De qualquer forma, Madonna quer um casamento para ficar na história. Ninguém duvida que atingirá o seu objetivo. Angela Oliveira |