20/12/2000 - 10:00
Designer, não. Riscador. É assim que o arquiteto Sérgio Rodrigues prefere ser chamado. Aos 73 anos, o criador de móveis consagrados no Brasil e no Exterior, transformou sua obra em livro, editado pelo Banco Icatu e lançado no dia 14, no Rio. A bela edição, organizada por Soraia Cals, surgiu a partir de uma tese de doutorado da ensaísta Maria Cecília Loschiavo, e foi acrescida de uma pequena e saborosa biografia, do crítico literário André Seffrin. Da prancheta do artista nasceram idéias geniais como as famosas cadeiras Lúcio Costa e Kilim, o sofá Meia Pataca, e a invenção mais célebre, a Poltrona Mole.
Formado em arquitetura, Sérgio sempre gostou de criar peças inspiradas no jeito e nos materiais brasileiros. “O mobiliário não acompanhava nossa arquitetura, já muito original. Tudo não passava de cópia”, lembra. Em 1957, quando já havia aberto uma loja de móveis, a Oca, o amigo e fotógrafo Otto Stupakoff lhe pediu um ‘sofá esparramado’, para pôr no canto de seu estúdio. Assim surgiu primeiro o sofá mole, uma espécie de grande almofadão de couro encaixado numa estrutura de madeira maciça e sustentado por tiras de couro. A poltrona que nasceu de forma despretensiosa conquistou prêmios de design, alcançou sucesso internacional e faz parte do acervo do MoMa, de Nova York. Elafoi adquirida também pela rainha Elizabeth, papa Pio XII, o americano John Kennedy, o presidente russo Nikita Kruchev, e o empresário Roberto Marinho. Foram mais de 500 unidades vendidas e Sérgio só a produz por encomenda, ao preço de R$ 6 mil.
“Não me sentei na Poltrona Mole. Deitei e rolei. Que artefato, meus amigos. Anatômica, convidativa, insinuante. Atração fatal”, elogia Millôr Fernandes na introdução do livro. Sobre ela também escreveu o jornalista Sérgio Augusto. “Ah, a Poltrona Mole! Quem nunca se sentou numa não sabe o que é…; perdão, na Poltrona Mole não se senta, refestela-se.” Tantos fãs quase ficam sem a poltrona. Por pouco Sérgio escapou de ser padre. Cursou dois anos de seminário, mas o diretor o desestimulou por absoluta falta de vocação.
O verdadeiro dom veio de berço. Sérgio conviveu desde a mais tenra infância com o desenho. Seu pai, o desenhista Roberto Rodrigues, e sua mãe, Elsa Rodrigues, conheceram-se na Escola de Belas Artes. Roberto consagrou-se ilustrador na imprensa, onde também trabalhavam os irmãos Mário e Nelson, mas morreu precocemente. Um sobrinho de Nelson Rodrigues não podia mesmo virar padre! Hoje, o arquiteto mantém-se à frente de seu ateliê. De lá, saem móveis, como a mesa criada recentemente para o escritório do ex-ministro Marcílio Marques Moreira, e projetos de casas, sempre com muita madeira, como as de Regina Casé, Kati de Almeida Braga e Francis Hime. Tudo riscado à mão. “Na hora em que o computador tiver uma tecla de criatividade, recorro a ele.” O livro chega às livrarias em 14 de janeiro.