20/12/2000 - 10:00
A tecnologia tem o poder de aumentar a felicidade das pessoas? Era essa a pergunta que me fazia quando visitei a Internet Home, um showroom de novidades tecnológicas instalado na sede da Cisco Systems, no Vale do Silício, Califórnia. Tudo bem, está certo que sempre sonhei em ter um controle remoto universal para substituir todos os demais que a gente usa para acionar a tevê, o vídeo, o som, o DVD e a tevê a cabo. Mas será que precisamos de uma única máquina polivalente para fazer tudo isso e ainda por cima receber e-mail, reduzir a intensidade da iluminação e esfriar a casa no verão? Os engenheiros da Cisco acreditam que sim. Tanto é que centralizaram todos esses comandos (e muitos outros) numa prancheta eletrônica, um monitor plano colorido e sensível ao toque. Foi com uma delas nas mãos que entrei no interior do “imóvel”. “Além dos custos normais de construção e decoração, aqui existem US$ 40 mil em tecnologia”, foi logo avisando Rob Sprenger, o gerente responsável pela casa. À primeira vista, ninguém apostaria nisso. Afinal, o que se vê são diversos ambientes decorados com estilo – mas nenhum fio, antena nem luzinha piscando. O espaço simula a residência de uma família de classe média. A cozinha é separada da sala de estar por um balcão, há dois quartos, sendo um suíte, além do escritório e da garagem.
Quase invisível – É preciso um olhar atento para se começar a distinguir as peculiaridades da casa. A primeira está nos espelhos de parede. Além das chaves de luz e dos plugues de energia e de telefone, existem tomadas para conexão de rede. Servem para ligar à Web os eletrodomésticos da casa, quase todos inteligentes. É o caso, na sala, de um porta-retratos nada estático. Exibe várias fotos, uma após a outra, copiadas do álbum de família digital armazenado no ciberespaço. Já à venda nos EUA, custa US$ 199, mais taxa anual de US$ 50 para uso do serviço online do fabricante, a Ceiva. Na parede oposta vê-se um rádio de internet chamado Kerbango. Em vez de uma antena, possui uma conexão para receber as transmissões de AM e FM. Ao preço de US$ 300, chega às lojas dos EUA em janeiro
Há na cozinha um monitor na porta da geladeira Whirlpool (dona da marca Brastemp no Brasil). Semelhante à prancheta, controla a temperatura do refrigerador, mantém um inventário dos alimentos em seu interior (através da leitura de código de barra) e um arquivo de receitas. Com o toque de uma caneta, pode-se controlar a temperatura do forno, do microondas, desligar as luzes da casa, ver tevê, DVD ou ler o e-mail.
No quarto do casal, um aparelho chamado Health Buddy monitora a saúde dos ocupantes da casa, que respondem a perguntas do estilo “como vai a sua saúde hoje?”, escolhendo opções de 1 (muito doente) a 10 (muito saudável). Dependendo da resposta, surge uma sequência de perguntas para identificar o melhor procedimento, desde o cuidados com a alimentação e ao repouso até a necessidade de marcar uma consulta, seguir ao pronto-socorro ou conectar aparelhos de análises clínicas, que irão, por exemplo, pesquisar a urina, enviando o resultado do exame ao médico.
Integrador de sistemas – Sprenger faz questão de afirmar que essa casa internet não tem nada de futurista. A maioria dos eletrodomésticos nela expostos já existe ou chega ao mercado em seis meses. E nenhum leva a marca Cisco. A função do showroom é demonstrar as tecnologias hoje existentes e incentivar sua adoção por fabricantes e consumidores. O negócio da Cisco, a empresa mais rica do planeta (ultrapassou neste ano a Microsoft de Bill Gates), é fornecer todo o “encanamento”, os equipamentos que administram o fluxo de dados da internet nos lares do futuro. Estes estarão escondidos num armário na garagem. “Nos próximos anos, quem construir uma casa terá de contratar um arquiteto, um decorador e também um integrador de sistemas”, observa Sprenger. Assim como hoje se consulta um especialista em som e vídeo na hora de projetar o home theater, o integrador de sistemas desenhará a rede de dados que atender melhor às necessidades (e ao bolso) dos moradores. Inaugurada em julho, agora em janeiro a casa da Cisco entrará em reforma. “Vamos instalar equipamentos de reconhecimento de voz para atender a todos os comandos hoje aceitos pela prancheta”, garante Sprenger.