20/12/2000 - 10:00
Há seis anos, a dona-de-casa Ana Maria Lopes, 41 anos, moradora de Jundiaí, interior de São Paulo, criou uma empresa de artesanato na sua casa. Mãe de quatro filhos, passou a produzir travesseiros com ervas medicinais. Em pouco tempo, encontrou mercado para os seus produtos e recebeu encomendas de várias companhias aéreas. Antes de contratar mão-de-obra, foi visitar a cadeia pública de Itupeva, com a curiosidade de saber como era a vida atrás das grades. A visita solidária virou um encontro de negócios. As presas contaram seus crimes, dramas pessoais e se queixaram da ociosidade da vida no cárcere. “Resolvi apostar no interesse das presas. É possível unir lucros e trabalho social com bons resultados”, contou. A empresária montou uma linha de produção dentro do presídio. “Trouxe tudo para cá. Tenho costureira, ajudante-geral e gerente de controle de qualidade”, afirmou satisfeita. Ana Maria estudou até o segundo grau e acredita que está contribuindo para uma sociedade mais justa e solidária. Antes, as presas sofriam de depressão, insônia, viviam à base de calmantes e brigavam muito entre si. O diretor da cadeia, Gilmar Marto Monteiro, confirma os bons resultados: “O trabalho é uma terapia. Sem ocupação as moças ficam irritadíssimas.” Atualmente, as presas chegam a produzir cerca de 20 mil travesseiros por mês. Ganham por produção, em média um salário mínimo por mês, além da remissão da pena. Para cada três dias trabalhados, um dia de pena a menos.
Jaílma Moreira, 29 anos, cúmplice de assassinato, chega a fazer cerca de três mil travesseiros por dia. Não revela o salário, mas contabiliza os gastos. “Compro roupa, produtos para maquiagem, gosto de comer bem e ainda mando um pouco para os meus filhos.” Em novembro de 1999, Patrícia dos Santos, 19 anos, ficou viúva e matou a sogra depois de ser ameaçada de perder a guarda do filho. Na cadeia, ela enche 300 travesseiros por dia e ganha R$ 40 por quinzena. “Uso o dinheiro para comprar cigarro, creme e absorvente.” Condenada por tráfico, Leandra Cavichiolle, 23 anos, é o braço direito da empresária. “Sou a gerente. Cuido do controle de qualidade, do material para evitar desperdício, empacoto e selo”, diz. Ela chega a ganhar R$ 200 por mês e confirma: “Cadeia sem trabalho dá muita briga.” A assaltante Eliane Accioly, 41 anos, vivia à base do tranquilizante diazepan. Parou de tomar remédio e hoje dorme com facilidade. Eliane ganha R$ 80 por quinzena e investiu num tratamento dentário. Lúcia Helena de Godoy, 21 anos, solteira, presa por roubo, desfia as fibras antes do enchimento. Vaidosa, conta que já reduziu 60 dias de sua pena e os seus maiores gastos são com xampu e batom. A traficante Tereza de Almeida, 58 anos, mãe de nove filhos, usa o dinheiro para manter a família: “Sou viúva e quando eles vêm me visitar reparto o que ganho com eles. É a vida.” .