20/12/2000 - 10:00
Embora seja considerado um dos melhores pintores brasileiros, o paulista de Campinas Giuseppe Giovanni Pancetti levou 38 anos para merecer uma retrospectiva à altura de seu talento. Por que tanta demora? É difícil dizer. O certo é que José Pancetti, como ficou conhecido, nunca foi uma unanimidade. Nos anos 50, por exemplo, quando se mudou para Salvador, alguns críticos acharam que ele havia se rendido ao apelo comercial por causa da transformação alegre, colorida e luminosa de sua pintura. Denise Mattar, curadora da mostra Pancetti – o marinheiro, em cartaz no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, lamenta a influência negativa que a crítica exerceu sobre o público nas décadas seguintes. Na sua opinião, foi justamente nesse período que Pancetti se soltou inteiramente, “entrando em sua fase mais deslumbrante”.
A exposição com 100 óleos do pintor veio do Museu de Arte Moderna da Bahia e seguirá para o Museu de Arte Brasileira da Faap, em São Paulo, no dia 6 de fevereiro. Ela cobre toda a trajetória artística de Pancetti até sua morte em 1959, aos 55 anos, quando suas famosas marinhas estão de tal forma simplificadas que beiram o abstracionismo. O acervo exibido é resultado da integração entre museus e colecionadores. Começa pelo Núcleo Bernardelli, um ateliê livre no qual o artista permaneceu pouco tempo, mas recebeu uma contribuição definitiva para sua carreira. Pancetti trabalhava com pintores como o polonês Bruno Lechowsky, responsável pelo olhar especial das suas telas de natureza.
Esta experiência proporcionou ao artista não só uma mudança na qualidade do seu trabalho, como inaugurou o primeiro prêmio da então recém-criada divisão moderna do Salão de Belas Artes com o quadro O chão, de 1941. A sala seguinte chama atenção pela capacidade de Pancetti em captar a luminosidade dos locais. De um lado estão as paisagens retratadas em Campos do Jordão, do outro as de São João Del Rey. Em seguida vêm dispostas as melancólicas crianças que se destacam pela economia de traços. Nos auto-retratos, o pintor, homem de origem simples, traveste-se de camponês, pescador, marinheiro e até almirante. Depois de passar pelas naturezas-mortas, em que Pancetti conjuga frutas e flores com ângulos inusitados dos cômodos nos quais elas estão dispostas, chega-se finalmente às marinhas. Em cenários idílicos como Arraial do Cabo, Cabo Frio, Saquarema e Itanhaém, a areia branca contrasta com os diversos matizes que viajam do verde ao azul.