31/10/2001 - 10:00
Antes de 11 de setembro, o governo Bush tinha como prioridade uma aproximação com a América Latina. No horizonte, a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), um bloco econômico que englobará as 34 nações localizadas entre os lagos da Patagônia e as geleiras do Alasca em um só mercado. As regras da Alca estarão plenamente vigentes em 2006, segundo o cronograma oficial. Mas até lá muitas outras barreiras, além das alfandegárias, terão de ser derrubadas. A atenção dos Estados Unidos se voltou para o Oriente Médio. E, na contramão da aliança, o país baixou na semana passada uma norma de restrições à importação do aço.
Enquanto isso, dois seminários – um em São Paulo, outro em Brasília – discutiam os desafios da entrada do Brasil na área de livre comércio. Um fato é praticamente unânime, inclusive até entre os detratores do acordo: a Alca é oportuna para o Brasil ampliar mercados no Exterior, principalmente nos EUA. Enquanto os americanos têm déficits diários de mais de US$ 1 bilhão, os produtos brasileiros desembarcam por lá ao ritmo de US$ 1 bilhão por mês. “O Brasil tem de esquecer o Mercosul e passar a jogar na primeira divisão do comércio internacional”, diz o economista-chefe do Banco ABN-Amro, Arturo Porzencanski.
Em Brasília, porém, o próprio ministro da Fazenda, Pedro Malan, fazia questão de colocar os pés no chão em relação ao bloco, durante o seminário “O Brasil e a Alca”, realizado no Congresso Nacional. “É um equívoco achar que a Alca traria ao Brasil os mesmos benefícios que o Nafta levou ao México”, afirmou, referindo-se ao acordo de livre comércio que dobrou o nível de exportação mexicano – mas também elevou significativamente o nível de importações do país. A proximidade com os EUA e a atuação das empresas que apenas montam produtos com peças vindas do exterior fizeram toda a diferença no caso dos mexicanos.
A experiência traumática com o Mercosul, que se encontra hoje completamente desfigurado, e a enorme diferença de poderio político e econômico que separam os EUA do Brasil assustam. Existe o medo de que o Brasil seja engolido com a abertura da zona livre. “A liberdade de mercado não é um objetivo ideológico. Ela é pretendida para se obter resultados”, alerta o ministro do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim. Um passo fundamental – a aprovação do projeto pelo Congresso americano – está emperrado pela guerra.
Do Fórum das Américas, que contou com a presença do ex-secretário de Defesa americano William Cohen saiu um documento que promete a criação de um conselho consultivo internacional para encaminhar discussões sobre o tema e facilitar o diálogo entre agentes econômicos dos dois países. “O mundo nunca deixou de ter conflitos. E mesmo assim nunca parou de crescer”, diz o presidente do fórum e do grupo Brasilinvest, Mario Garnero. Por ora, falta a América Latina reaparecer no mapa-múndi de Bush.