31/10/2001 - 10:00
A trégua durou seis anos e cinco meses, mas acabou nos primeiros minutos da quarta-feira 24. Depois de uma greve histórica em 1995, quando os petroleiros paralisaram a produção nacional de petróleo e gás do País por um mês, a categoria voltou a cruzar os braços para pressionar a Petrobras a pagar salários mais justos e oferecer melhores condições de segurança no trabalho. O movimento foi programado nos mínimos detalhes e a paralisação já nasceu com dia e hora para terminar: de zero hora da última quarta-feira até domingo 28. É a primeira vez que a empresa aceita negociar em plena greve da categoria.
Os acidentes de trabalho entraram na pauta de reivindicações com a mesma importância dos salários. Só neste mês morreram seis petroleiros em serviço, o que totaliza 26 mortes em acidentes de trabalho neste ano. De 1998 até hoje já foram 103 acidentes fatais, o que representa uma média de duas mortes por mês. Desde a explosão da P-36, que a Frente Única dos Petroleiros (FUP) e os sindicatos locais vêm alertando a Petrobras sobre os acidentes de trabalho, a maioria deles envolvendo trabalhadores terceirizados. Dos 26 petroleiros mortos em outubro, 14 eram vinculados a empresas terceirizadas. “De 1994 para cá, a companhia demitiu 25 mil funcionários experientes”, diz Argemiro Pertence, diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet).
Pertence associa a terceirização – celerada pelo presidente Henri Philippe Reichstul – ao aumento do número de acidentes ambientais e de trabalho: de 1975 a 1998, a média era de um acidente por ano; em 1999, foram nove; em 2000, 34; e em 2001, até setembro, 21. Reichstul tercerizou a manutenção, setor vital, e a área de pesquisa, que guarda valiosos segredos da companhia. “Ele é a maior ameaça que existe ao meio ambiente no País”, diz o engenheiro.
Ao contrário da última greve, quando o Exército invadiu refinarias para garantir o fornecimento de petróleo e gás, a atual paralisação está fazendo de tudo para evitar o desabastecimento. Apesar disso, no primeiro dia de greve houve conflito entre os petroleiros e a PM em frente à Refinaria de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Dois petroleiros receberam voz de prisão e a pancadaria entrou pelo pátio da refinaria.
À frente do movimento está um sindicalista moderado, vinculado ao PT, o carioca Maurício França Rubens. Foi ele quem costurou a adesão que está deixando a Petrobras encurralada. No primeiro dia do movimento, a produção nacional caiu 60,2%, reduzindo de 1,3 milhão de barris de petróleo por dia para 550 mil. Os petroleiros querem reajuste de 8,3%, mais 17,41% de produtividade e 42,58% referentes às perdas salariais do Plano Real, o que totaliza 68,29%. A Petrobras ofereceu 6%.
Os petroleiros têm em mãos um poderoso aliado: o balanço da empresa no ano passado, quando todos os indicadores financeiros e econômicos registram recordes, desde a receita bruta, de R$ 64,3 bilhões, até o lucro líquido, de R$ 10 bilhões, o maior de sua história. A receita líquida atingiu R$ 49,8 bilhões, 68,2% mais que em 1999. Seus 33 mil funcionários querem uma fatia desse bolo.