31/10/2001 - 10:00
Seu nome era colossal. Diego María Concepción Juan Nepomuceno Estanislao de la Rivera y Barrientos Acosta Rodriguez. Quase tudo que diz respeito a Diego Rivera (1886-1957), um dos mais influentes artistas latinos deste século, é recheado de superlativos, a começar pela sua silhueta rechonchuda. Nacionalista extremado, fez da paixão pelo México a força motriz de uma obra pioneira que atingiu a excelência nos grandes murais pintados em locais públicos para levar arte ao povo. Tornou-se então, identificado como um dos criadores do muralismo, movimento que compartilhou com os artistas mexicanos José Clemente Orozco e David Alfaro Siqueiros. Engajado na temática social, ganhou a alcunha de mestre do realismo socialista. Mas é outra, e menos popular faceta da vasta obra de Rivera, que desponta como uma das grandes atrações da 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, sediada em Porto Alegre até 16 de dezembro, consolidada como uma mostra de crescente prestígio internacional e, certamente, a mais importante realizada no País fora do chamado eixo Rio–São Paulo.
As 44 obras expostas pelo pintor mexicano cobrem o período de 1906 a 1957, ano de sua morte, incluindo uma fase de influência cubista, que rejeitaria mais tarde, e uma caudalosa prática de retratista. Mas não é apenas Rivera que brilha na bienal gaúcha. Junto com suas telas, estão os trabalhos do pintor e gravador norueguês Edvard Munch (1863-1944), autor da célebre tela O grito e que está sendo representado por um conjunto de 12 óleos e 20 gravuras inédito na América do Sul. Com imagens sombrias e marcadas por uma sensualidade mórbida, as obras preservam as características capitais do artista, considerado um dos pais do expressionismo. Munch divide as atenções da bienal com um surpreendente painel da arte contemporânea chinesa, através de uma produção figurativa na qual se realçam os acrílicos sobre tela de Fang Lijun e os belos retratos hiper-realistas de Shen Xiaotong.
Rivera, Munch e os chineses chegaram à bienal pela influência de Jens Olesen, publicitário dinamarquês radicado em São Paulo, que carrega o título de comissário especial da mostra. Olesen, presidente da agência de publicidade McCann-Erickson, é um veterano na empreitada de grandes eventos, circulando com enorme desenvoltura no meio das artes. Ele já trouxe mais de uma vez a obra de Munch ao Brasil, inclusive a tela O grito. É amigo pessoal do poeta Juan Coronel Rivera, neto de Diego Rivera, e esteve na China várias vezes, o que o permitiu travar contato com mais de mil artistas do país. Ele está feliz com o retorno de seus esforços. Num único final de semana, a 3ª Bienal do Mercosul contabilizou 50 mil visitantes, número que deverá chegar à casa dos 500 mil. “O Brasil é um continente, e seria muito importante que houvesse um grande evento de arte no Recife ou em Fortaleza”, diz Olesen, para quem a mostra gaúcha possui o mesmo nível das bienais de São Paulo. Só que com um formato reduzido, proporcional ao orçamento de R$ 4 milhões.
Ainda que desta vez figurem grandes nomes da arte internacional, a 3ª Bienal do Mercosul não abdicou de sua vocação, que é centrar seu foco na produção latina, nem sempre prestigiada. No todo, reúne em 12 mil metros quadrados, distribuídos em seis espaços, 400 obras de 129 artistas de sete países – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai. É inegável, porém, que nomes como Rivera e Munch só aumentem seu interesse. Agora, Porto Alegre tem um evento que se rivaliza em espetáculo com o belíssimo pôr-do-sol do rio Guaíba.