Todos os desmandos, truculências e confusões criados por Eurico Miranda em 14 anos como vice-presidente do Vasco explodiram no estádio de São Januário, na zona norte do Rio. Foi exatamente aos 23 minutos da final da Copa João Havelange, no sábado 30 de dezembro. Depois do tumulto que feriu 168 pessoas, o deputado vascaíno pelo PPB virou unanimidade e foi alçado ao posto de principal vilão do País. Este, um outro esporte nacional, o de crucificar os culpados óbvios, quase sempre em benefício dos outros vilões ilustres. Foi como se o dirigente tivesse desbancado os demais da política, do Judiciário e do mundo do crime. Eurico reuniu não só a ira dos apaixonados pelo futebol. Os caciques do Senado e da Câmara aproveitaram a oportunidade de ouro e reagiram à arrogância do cartola deputado, que xingou o governador Garotinho pela tevê. Ele pode perder a imunidade e está ameaçado de cassação por falta de decoro parlamentar e ofensas desferidas contra senadores. O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), já deu o primeiro passo. Enviou na quinta-feira 4 à corregedoria representação da CPI do Futebol no Senado contra Eurico por quebra de decoro. “Estou dando prosseguimento a um processo que já existia. Agora, se houver pedido de quebra de imunidade, mando processar imediatamente, com a rapidez que o caso exige”, disse Temer. Ele alegou que não iria depor na CPI porque o presidente da comissão tem “um grave problema sexual”. O inimigo número 1 do futebol está na mira de duas CPIs, a que corre no Senado e a que acontece na Câmara dos Deputados. Atuam no mesmo time de Eurico os cartolas que jogaram pás de lama na paixão nacional com trambicagens armadas na compra e venda de jogadores para o Exterior, sonegação fiscal, desvio de dinheiro para paraísos fiscais e riqueza incompatível com a renda.

O Vasco enfrentava o São Caetano quando um tumulto nas arquibancadas superlotadas provocou a correria. Uma avalanche humana arrebentou o alambrado e caiu no gramado. As cenas foram transmitidas pela Rede Globo para 17 milhões de brasileiros e também para telespectadores de 26 países. São Januário transformou-se numa arena. Em meio aos jogadores, centenas de feridos. Ambulâncias e helicópteros de resgate entraram em campo. Entre os atingidos com maior gravidade, estava Nicole Santana, cinco anos. A tragédia era previsível. A lotação passava de 30 mil torcedores, o limite do estádio.

Lama – Eurico é apenas o personagem mais visível e, talvez, o mais destemperado de uma vasta galeria de dirigentes esportivos que transformaram o futebol numa farra de trambiques. Os problemas causados pela desorganização do torneio (leia quadro à pág. 27) são fichinha perto do que as CPIs têm para apurar. Os senadores já aprovaram a quebra dos sigilos bancários e fiscais da CBF, de seis federações, 16 grandes clubes, entre eles o Vasco, além de 19 dirigentes e ex-dirigentes esportivos, incluindo Eurico Miranda. O parlamentar pede sempre que as votações na Câmara não coincidam com jogos do Vasco e foi reeleito com 105.969 votos, utilizando o lema “vascaíno vota em vascaíno”. Dos R$ 124 mil declarados como doação de campanha, quase R$ 80 mil vieram da CBF e dos empresários de astros do futebol Reinaldo Pitta e Alexandre Martins.

Na desastrosa final da João Havelange, aos gritos, o cartola queria reiniciar a partida a todo custo. O juiz Oscar Roberto Godói chegou a obedecê-lo, inicialmente, a partir do sinal verde dado pelo major Nilton Braga, da PM, comandante do policiamento do estádio. Esta, pelo menos, é a versão do árbitro. Braga, de acordo com o juiz, depois recuou, alegando estar cumprindo ordens superiores. O superior, nesse caso, era o governador Anthony Garotinho. A partir deste momento, Eurico partiu para ataques ao governador: “Ele é um incompetente e frouxo.” Garotinho promete acioná-lo na Justiça: “Não tenho como deixar de processá-lo. Percebo que, além de desumano e irresponsável, ele também é mal-educado”, revidou o governador. O xingamento serviu ainda para que os colegas políticos subissem o tom das críticas. O presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), defendeu a quebra da imunidade, pediu prisão para o cartola e, por fim, chamou-o de louco, desvairado. “Nessas horas, não deve haver imunidade. Se ele não pode ser punido pelo governador, que seja pelo Congresso.” O presidente da CPI do Futebol no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR), reforçou as críticas: “O que ele fez em São Januário foi criminoso e não poderá permanecer impune.” Os desdobramentos do episódio não param por aí. Mais de 100 torcedores procuraram a polícia para representar contra o Vasco. A renda do jogo foi penhorada pela Justiça e o estádio de São Januário foi interditado pela Defesa Civil.

Inferno astral – Este talvez seja o momento de maior fragilidade na trajetória de Eurico Miranda, 56 anos. Na quarta-feira 10, será a vez de o deputado mudar de cadeira e dar explicações à CPI da Câmara sobre a final da JH. Esse depoimento não preocupa o cartola. Na Câmara, onde o próprio Eurico integra a CPI, ele conta com o apoio de outros parlamentares ligados ao futebol. “Ele não tem culpa. Foi um acidente”, defende o deputado Luciano Bivar (PL-PE), presidente do Sport Club do Recife. O problema do cartola está na decisão do presidente da comissão, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que pretende mandar representantes da CPI ao Rio para investigar São Januário. Eurico pressionou Rebelo para evitar a interferência, mas só conseguiu uma compensação: a promessa de que será examinada também a suposta manipulação da Rede Globo na cobertura do episódio. Eurico tem dito que houve uma edição tendenciosa para prejudicá-lo. “Se houve manipulação de setores da imprensa, é muito grave. Colocar toda a culpa nas costas do Eurico é muito fácil e dá ibope. Mas não resolve o problema”, observa Aldo Rebelo.

Para enfrentar a Justiça, o cartola conta com a imunidade parlamentar e só responderá a processos se a Câmara autorizar. O pedido tem que partir do Supremo Tribunal Federal. Não se deve subestimar as armas de Eurico na briga para se livrar da responsabilidade pelos feridos em São Januário. A influente bancada do futebol já deu demonstrações de poder. Conseguiu adiar por dois anos a CPI da Nike. Ela só foi instalada quando o Senado saltou na frente, em outubro passado, e criou a sua própria comissão para investigar as maracutaias do futebol brasileiro. Some-se a isso a dificuldade dos deputados de cortar a própria carne. “Duvido. O corporativismo sempre venceu”, diz o deputado petista José Genoíno (SP).

Impunidade – A proposta de emenda constitucional para mudar a imunidade, permitindo que deputados sejam processados por crimes comuns, está engavetada há cinco anos. Além disso, a campanha que se instalou na Câmara para eleger o seu novo presidente pode funcionar como um instrumento de barganha em favor de Eurico. Nem o PFL de Inocêncio Oliveira (PE) nem o PSDB de Aécio Neves (MG) podem se dar ao luxo de dispensar os votos da cartolagem e do PPB, que está fechado na defesa de Eurico. Contra ele, pesa a reação da opinião pública. “O corporativismo não consegue resistir a uma grande pressão popular”, crê o deputado Jacques Wagner (PT-BA), para quem a responsabilidade de Eurico não é diferente da do ex-deputado Sérgio Naya, cassado em 1999 por causa do desabamento do edifício Palace II.

Eurico começou a chamar a atenção em 1985, quando Antônio Soares Calçada venceu a eleição para a presidência do Vasco concorrendo contra ele. Depois da posse, Calçada compôs com o oponente e este passou a ocupar a vice-presidência do clube. Começava ali o estilo peculiar de administração, marcado por uma série de controvérsias e acusações. No Brasileiro do ano passado, Eurico foi suspenso por 40 dias por invadir o gramado de São Januário no jogo contra o Paraná Clube e ameaçar o juiz. A partir daí, Eurico deu um show de incontinência verbal, que culminava quase sempre em invasões aos campos. Há um mês, brigou com radialistas e jornalistas das Organizações Globo. Impediu o acesso dos veículos associados a São Januário, numa censura que contrariou uma liminar conquistada na Justiça.

A prepotência do dirigente vascaíno está representada na volta olímpica que os jogadores do seu time deram logo após a suspensão do jogo contra o São Caetano, em meio ao atendimento aos feridos. A taça – verdadeira e não de plástico, como chegou a ser dito – está hoje trancada na sala de troféus do Vasco, conforme admitiu Eurico. Essa não foi a única volta olímpica que o cartola transformou em vexame. Em 1990, apesar de o campeão estadual ter sido o Botafogo, que venceu o Vasco por 1 a 0 no Maracanã, ele mandou que os jogadores comemorassem o título. O caso foi parar na Justiça e o Botafogo foi proclamado campeão. A atuação do cartola também tem lances que beiram o pastelão. Ele patrocinará o desfile carnavalesco que a escola de samba Unidos da Tijuca fará este ano, com enredo que homenageia o jornalista Nelson Rodrigues. Nelson foi um dos mais ardorosos torcedores que o Fluminense já teve. Apesar disso, a escola entrará na Sapucaí com várias bandeiras e símbolos com a cruz de malta, além de 300 integrantes da Força Jovem do Vasco. Não haverá referências ao Fla-Flu, clássico imortalizado pela pena do jornalista, já que o Flamengo é considerado arquiinimigo do Vasco.

Dívidas – Mas quando o assunto é Eurico Miranda, o que mais chama a atenção dos integrantes da CPI é a forma como ele administra o dinheiro. Apesar de alardear que fez com o Bank of America a melhor parceria do futebol, o Vasco é o segundo clube que mais deve ao Imposto de Renda, atrás apenas do Cruzeiro. A dívida do clube carioca chega a R$ 13,8 milhões. Além disso, a CPI descobriu que a empresa Vasco da Gama Licenciamentos remeteu US$ 18,4 milhões ao Exterior por meio das contas CC-5, um instrumento criado pelo BC para esta finalidade. Eurico diz que não tem nada a ver com a empresa, que ela é gerida pelo banco americano. Os senadores também investigam a denúncia de que o cartola teria ligação com donos de bingo paulistas. O principal deles é o contraventor Ivo Noal.

A transação mais suspeita do Vasco foi a venda do jogador Bebeto ao clube espanhol Deportivo La Coruña, em 1992. “Eurico e Calçada venderam o atleta por US$ 2,5 milhões e só metade desse dinheiro entrou no clube”, denuncia o conselheiro vascaíno Sérgio Paulo Gomes de Almeida, um dos maiores desafetos dos dois: “US$ 700 mil teriam ficado com Bebeto. Onde foi parar o restante do dinheiro?”, pergunta Almeida. A negociação acabou sendo condenada pelo próprio Banco Central, que multou o clube em US$ 1,8 milhão. A diretoria está recorrendo. O cartola já expressou publicamente o que pensa sobre casos como esses. Em entrevista ao programa Bola da Vez, do canal fechado ESPN, considerou “aceitável” que um dirigente receba dinheiro na venda de um jogador do próprio clube. “Se o clube não for prejudicado, não vejo nada de mal”, disse Eurico, que negou ter recebido dinheiro na venda de jogadores. Mas admitiu que “se tivesse, não contaria”.

Casa em Angra – Almeida lembra que o nome de Eurico constava da lista de beneficiados do falecido bicheiro carioca Castor de Andrade. Mas Eurico não costuma ostentar riqueza. Uma das poucas exceções é a casa de veraneio em Angra dos Reis, situada no Condomínio Caeirinha (km 110 da Rio–Santos). Foi lá que o cartola passou o réveillon, comemorando a passagem do ano com fogos de artifício durante 20 minutos. A casa tem quatro suítes e um quarto, duas salas, com os janelões de vidro que dão para a pequena praia exclusiva protegidos por toldos brancos, duas varandas, sauna e piscina. Na garagem fica guardada a lancha Twister, de 41 pés. De acordo com uma imobiliária de Angra dos Reis que acompanhou a compra da casa, o imóvel teria sido negociado por U$ 800 mil. Nos fundos do terreno tremula uma bandeira do Vasco.

O condomínio tem 56 lotes e 25 casas. Outros ilustres proprietários são o técnico Carlos Alberto Parreira e Reinaldo Pitta, empresário de Ronaldinho, que está na lista das CPIs. O jogador Bebeto também tem um terreno no condomínio. Os dois lotes onde Eurico Miranda tem sua casa – 32 e 33 – não estão em seu nome. No cartório do 1º ofício de Angra, foram comprados em 1995 pelo comerciário Romero Lopes Badin, por R$ 21 mil. A construção não foi averbada. O mesmo acontece no cadastro da prefeitura. O lote 33 foi registrado por Marino Empreendimentos Imobiliários e KLB Empreendimentos e Participações Ltda., e o 32 pelo mesmo Romero Lopes Badin que adquiriu os terrenos. Badin confirmou a ISTOÉ ter vendido o terreno com a casa em construção para Eurico Miranda, há dois anos, e negou que o valor pago tivesse sido US$ 800 mil. Ele não quis revelar quanto recebeu. “É um assunto polêmico”, esquivou-se. O IPTU lançado este ano sobre os dois lotes, que somam 6.564 metros quadrados, é de R$ 2.288. O poder que Eurico exerce há tantos anos no cenário esportivo não foi conquistado em vão. Mesmo quem não gosta dele admite que o cartola se diferencia de seus pares por ter paixão verdadeira pelo clube que dirige. “Sou obrigado a reconhecer que ele faz loucuras por amor ao Vasco”, atesta o adversário Sérgio Almeida. Outro de seus desafetos, o jornalista esportivo José Trajano, reconhece no dirigente vascaíno pelo menos uma qualidade, “Ele não esconde o que é. Faz questão de dizer o que pensa, ao contrário de outros cartolas que têm as mesmas práticas, mas são dissimulados.” Sem nenhuma publicidade, o dirigente pagava uma contribuição mensal ao goleiro Barbosa, falecido há um ano. Depois de falhar no jogo decisivo na Copa de 50, quando a Seleção Brasileira foi derrotada pela uruguaia, Barbosa teve sua vida transformada em um inferno e caiu na miséria. Foi morar em Santos e uma de suas escassas fontes de renda era a doação de Eurico.  

Teatro do absurdo
Alan Rodrigues
Malutron, da terceira divisão, poderia ter sido campeão. São as regras da JH

O surpreendente São Caetano ainda tem chances de levar a Copa João Havelange no campo, nos gabinetes ou nos tribunais. Na segunda-feira 8, o Comitê Executivo do Clube dos 13 escolherá uma entre três alternativas: entregar o título ao clube paulista, marcar uma nova partida ou declarar os dois times campeões. A decisão poderá ser referendada ou modificada no dia seguinte pela Justiça Desportiva. Mas esse torneio, um monstrengo de 116 clubes e mais de mil jogos, parece ter sido concebido sob encomenda para Eurico Miranda. Na tentativa de tirar o Gama, de Brasília, da primeira divisão, Eurico e seus colegas do Clube dos 13 criaram o mais confuso e inchado campeonato da história do futebol nacional. Nos anos 70, sob a ditadura militar, chegou-se a reunir 98 clubes num Brasileirão. O lema era “onde a Arena (partido do governo) vai mal, um time no Nacional”. Mas nem mesmo o almirante Heleno Nunes, presidente da CBF naquele período, poderia imaginar que sua ousadia seria superada.

Em 1999, a Justiça Desportiva transferiu os três pontos de uma vitória de 6 a 1 do São Paulo para o time derrotado, o Botafogo. A equipe carioca superou a brasiliense na classificação e o Gama foi rebaixado. O clube buscou a Justiça comum, que determinou sua volta à elite. A cartolagem reagiu, retirou da CBF a organização do Brasileirão e criou a JH. Imaginavam que poderiam excluir o Gama do torneio feito por eles. A Justiça comum exigiu a presença do Gama na nova disputa.

O regulamento da JH abriga algumas insanidades. Os 116 times foram divididos em quatro módulos. Sobraram 16 clubes: os 12 primeiros colocados do módulo azul, os três melhores do amarelo (São Caetano, Paraná Clube e Remo-PA) e o campeão dos módulos verde e branco, o paranaense Malutron. Na surreal disputa, até o modesto Malutron poderia levar o caneco. Não houve clube que subiu de divisão nem rebaixamento. O São Caetano ou o Malutron, na hipótese de vencer a competição, poderiam conquistar a Libertadores da América, ir a Tóquio buscar o Mundial Interclubes e, no Brasileiro seguinte, voltar aos campos esburacados das divisões inferiores, como uma cinderela que vê sua carruagem transformar-se em abóbora. Mas, Fluminense e Bahia, catapultados da segunda divisão, estarão na elite, aconteça o que acontecer. Nem o dramaturgo romeno Eugene Ionesco, o pai do teatro do absurdo, imaginaria um delírio nessas proporções. Deu no que deu.

Chico Silva e Eduardo Marini

“No fim, a verdade prevalecerá”

Acuado pelas críticas após o desastre da final da Copa João Havelange, o presidente eleito do Vasco, Eurico Miranda, passou a última semana na defensiva. Na quarta-feira 3, aceitou conversar com ISTOÉ por telefone:

ISTOÉ – Houve superlotação em São Januário?
Eurico Miranda – Claro que não. Tinham 32 mil pessoas, bem abaixo do limite. As imagens mostram que não havia gente nos dois primeiros degraus da arquibancada.

ISTOÉ – A assistência aos feridos não foi falha?
Eurico – As ambulâncias chegaram rápido, prova de que o jogo foi bem organizado.

ISTOÉ – Torcedores contam que davam R$ 5 aos bilheteiros e pulavam as catracas…
Eurico – Você não vai querer que eu saiba se isso realmente aconteceu. Posso dizer que os ingressos colocados à venda estavam abaixo do limite do estádio.

ISTOÉ – O alambrado estava corroído?
Eurico – Há uma diferença entre um muro de contenção e um alambrado de separação. As pessoas falam sobre coisas que não entendem. Um muro de contenção não deve ceder. Agora, um alambrado de separação tem que ceder para evitar que as pessoas sejam esmagadas.

ISTOÉ – Por que o sr. queria continuar o jogo?
Eurico – Fui procurado pelo coronel Paulo Gomes, comandante da Defesa Civil. Ele disse que estava a mando do governador Garotinho e que o jogo seria reiniciado em três minutos. Falou com os policiais, disse que tinha segurança e comunicou isso ao árbitro. O coronel orientou para que o time voltasse a campo e eu fui para o vestiário. Cinco minutos depois fui surpreendido com a informação de que tinham encerrado o jogo, por ordem do governador. O comandante avisou ao Godói (o árbitro Oscar Roberto Godói) que, por ordem superior deixava de dar garantia.

ISTOÉ – Por isso o sr. chamou o governador Garotinho de frouxo e incompetente?
Eurico – Fiquei contrariado por não terem me dito que não haveria jogo e dei aquela declaração. Esse Paulo Gomes não me procurou para dizer: “Recebi uma ordem, não vai ter jogo.”

ISTOÉ – Não se arrependeu da forma como tratou o governador?
Eurico – Se me mandassem repetir aquelas palavras agora, não repetiria. Mas naquelas circunstâncias, a minha reação foi justificada. Não me arrependo.

ISTOÉ – A Rede Globo mostrou cenas em que o sr. pedia para que o campo fosse evacuado para o reinício do jogo…
Eurico – A Rede Globo está botando no ar só uma parte da fita, que é a parte final, dizendo que eu queria tirar os feridos. As pessoas que eu estou tirando não são os feridos, mas os intrusos. Me preocupei unicamente com os feridos. Eu, mais do que ninguém, tratei disso.

ISTOÉ – Por que o sr. ficou tanto tempo sem falar sobre o episódio?
Eurico – Estou deixando todo mundo botar para fora todos os seus ódios, ressentimentos, frustrações, mágoas. Em relação a mim e em relação ao Vasco. No fim, como diz a passagem bíblica, a verdade prevalecerá.

ISTOÉ – Quando o sr. vai expor oficialmente a sua verdade?
Eurico – Espero que no dia 10. Vou na Câmara fazer um relato completo do que aconteceu. Vou revelar como estão conduzindo este processo.

ISTOÉ – O sr. faz elogios ao senador ACM, que agora o ataca. Está arrependido?
Eurico – Nos jornais saem muitas coisa. Para mim ele não falou nada.

ISTOÉ – O sr. teme ter a imunidade parlamentar cassada?
Eurico – Não falo sobre isso.