Sempre que se fala da Semana de Arte Moderna de 1922, os primeiros nomes lembrados são os de Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Tarsila do Amaral. Nada do engenheiro paulista Alexandre Marcondes Machado (1892-1933), mais conhecido pelo seu pseudônimo, Juó Bananére. Verdade seja dita, o tímido Machado nem sequer participou do célebre evento. Mas é inegável que ele foi, mesmo sem o devido crédito, um dos mais inventivos precursores do movimento. A justiça é reparada graças a um minucioso trabalho de pesquisa de Cristina Fonseca, mestre em comunicação e semiótica, autora de Juó Bananére – o abuso da blague (Editora 34, 208 págs., R$ 29). Cristina recupera com fôlego a trajetória do escritor, que de certa forma se tornou o primeiro grande fenômeno editoral do País, convertendo sua coluna no jornal O Pirralho, fundado por Oswald de Andrade, num enorme sucesso. Em parceria com o excelente cartunista Voltolino, Bananére desenvolveu uma linguagem única, coloquial, daí seu status de pré-modernista. Satirizou a sociedade da época, através de um humor corrosivo que reproduzia o jeito macarrônico de conversar dos imigrantes italianos, o que pode ser comprovado em La divina increnca (72 págs.), cuja reprodução integral da primeira edição, de 1915, acompanha o volume. Como Guimarães Rosa, Bananére inventou uma linguagem própria para expressar dilacerantes caricaturas verbais, e foi vanguarda muito antes de as pessoas saberem exatamente o que isso significava. Celso Fonseca