A revelação do Ministério da Saúde de que o número de adolescentes brasileiras grávidas dobrou em relação ao da década de 80 mereceria, no linguajar bélico, a classificação de alerta máximo. Ao contrário do que logo vem à mente, o problema não decorre da falta de informação. A gravidez de jovens é, cada vez mais, intencional. As pistas para entender o fenômeno, descritas na reportagem de Natália Rangel Azevedo, à pág. 72, sugerem um entrelaçamento de causas profundas. Além das motivações mais típicas, como as ambiguidades da adolescência, a necessidade de afirmação da feminilidade, a carência afetiva ou a simples curiosidade, as adolescentes teriam outros impulsos. A falta de projetos de vida e a indefinição de um papel na sociedade estariam entre as motivações da gravidez precoce desejada. Basta uma rápida pesquisa empírica para mostrar a relação entre a ausência de projetos e a probabilidade pequena de os adolescentes de hoje conseguirem emprego amanhã. Reminiscências do passado recente apontam para uma provável articulação entre a falta de clareza da juventude quanto a sua função na sociedade e a anemia política e cultural do País. O período do movimento estudantil, dos festivais musicais de qualidade, das ações culturais e religiosas dos jovens começou a submergir em 1964. No seu lugar, veio à tona a fragmentação, o individualismo, a falta de rumo. Talvez falte aos jovens a sensação de estarem contribuindo intensa e maciçamente para a construção de um país melhor.