O estudante Masayoshi Ninomiya, 12 anos, não vai viajar nessas férias. Aluno da sexta série do ensino fundamental da Escola Pacaembu, bairro nobre de São Paulo, ele trocou o lazer e o descanso por um curso de robótica que o colégio oferece nessa época. A novidade também mudou o programa de outros colegas de Masayoshi. Todos acreditam ter feito uma boa escolha. O curso ensina conceitos básicos de mecânica, eletrônica e informática e desperta a atenção da garotada por causa do desafio: ao final, os alunos constroem um robô. Através do computador, eles programam todos os movimentos dele. Nas aulas, os alunos se dividem em grupos e cada um fica responsável por uma tarefa. “Alguns se destacam como líderes de equipe, outros como programadores. Enfim, eles descobrem a importância do trabalho em conjunto”, diz o professor de informática Ricardo Antonio dos Santos, que implantou o curso. Após as aulas, os estudantes participam de uma competição. A meta é fazer o robô sair de um labirinto sem paredes, também criado por eles. “Aprendi como as máquinas funcionam e o que faz aumentar e diminuir a velocidade de um carro, por exemplo”, afirma Masayoshi. Os jovens, de maneira geral, são apaixonados por engrenagens, eletricidade e computadores. “Tudo isso está no no dia-a-dia deles. É importante, então, descobrir como esses mecanismos funcionam”, diz o professor Ricardo. A idéia é desenvolver o raciocínio dos estudantes para a busca de soluções no seu cotidiano. A tecnologia empregada no projeto é a mesma utilizada pela Nasa na construção de robôs enviados ao espaço, só que numa versão mais simplificada.

Os alunos da pré-escola do Colégio Friburgo, na Granja Julieta, zona sul de São Paulo, também participam de programas culturais de férias na escola. Aulas de pintura, desenho, dança, escultura e equitação são algumas das atividades disponíveis para os alunos. Eles também cuidam de uma horta. Os cursos têm uma proposta lúdica. Não existe nenhum tipo de exigência nas tarefas destinadas às crianças, observa Maria Beatriz Telles, coordenadora pedagógica da pré-escola, chamada Casinha Pequenina. “Esse trabalho altera a rotina do colégio e as crianças interagem com muita facilidade”, explica Maria Beatriz. A novidade parece agradar. Desde que o projeto foi implantado, 230 crianças já participaram do programa.

Outras iniciativas também têm conseguido bons resultados. O professor de ciências Carlos Eduardo de Godói, do Colégio Ofélia Fonseca, em Higienópolis, região central de São Paulo, encontrou uma alternativa para não perder o contato com seus alunos durante as férias. E os alunos não reclamam, muito pelo contrário. Godói criou, no site da escola, uma sala de bate-papo onde conversa periodicamente com os estudantes. Mensagens enviadas pelos alunos ao professor falam do lugar onde eles passam as férias, contam novidades e também resultam em colaborações para o Clubinho de Ciências, uma seção do site do colégio. Tudo é repassado aos demais alunos e as idéias e sugestões são debatidas. “O projeto tem feito muito sucesso entre os estudantes e suas famílias”, comemora o professor. A idéia do curso de férias é elogiada também pelos pais que não podem viajar nesse período e não têm com quem deixar os filhos durante o dia, enquanto trabalham. A pedagoga Inês Americano, diretora da Escola Viva, na Vila Olímpia, zona sul paulistana, observa que esses cursos já atraem um grande número de alunos que não pertencem ao seu colégio. “Muitos só vêm aqui nas férias. Por isso, criamos uma programação nova e interessante, trazendo outros professores, inclusive”, esclarece Inês. Assim, os estudantes não têm a sensação de que estão na escola.

Enquanto isso…
Nas escolas públicas, alunos lotam as salas de aula nas férias para fazer a chamada “recuperação”, em contraste aos colegas de colégios privados que têm acesso a atividades especiais. O sistema de reforço adotado na rede pública é considerado ineficiente por muitos educadores. Nas redes municipal e estadual de ensino em São Paulo, a repetência praticamente foi abolida e os alunos hoje são aprovados em ciclos (da primeira à quarta série e da quinta à oitava). “Esse método de avaliação é uma imposição da atual política educacional, que não valoriza o aprendizado como objetivo principal”, critica Maria Isabel Noronha, presidente do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo. Na Escola Estadual São Paulo da Cruz, em Osasco (Grande São Paulo), cerca de 80 alunos do ensino fundamental fazem a recuperação. O estudante da quarta série Alan Pereira Campell, dez anos, que não sabe ler nem escrever corretamente, diz que preferia estar em férias. “Mas, já que estou aqui, espero aprender a escrever melhor”, conforma-se o aluno. Para a secretária de Educação do Estado de São Paulo, Rose Neubauer, a recuperação é importante porque possibilita ao aluno se preparar melhor para o ano seguinte. “Estamos no quinto ano da implantação da recuperação e, se não tivesse dado certo, já teríamos interrompido”, diz a secretária. Rose afirma que o
aluno não merece ser reprovado por ter ido mal numa única disciplina. “Desestimulado, o estudante não volta mais para
a escola”, acredita.