No papelório oficial, o presidente eleito do Vasco, deputado Eurico Miranda (PPB-RJ), é um sujeito até modesto em comparação com outros cartolas. Com uma renda de pouco mais de R$ 30 mil mensais, incluindo os R$ 8 mil que ganha na Câmara, três carros e um apartamento financiado, Eurico não teria condições, na ponta do lápis, de pagar pela mansão que tem no condomínio de Caieirinhas, em Angra dos Reis. Talvez por isso diga que recorreu a um mecenas para construir a casa com quatro suítes, duas salas, piscina e sauna. O financiador é o empresário Reinaldo Pitta, procurador do jogador Ronaldinho, vizinho do cartola vascaíno no mesmo condomínio e, pelo menos oficialmente, dono da lancha Twister, de 41 pés, guardada no deck da casa de praia de Eurico. Ao Fisco, o cartola diz que pegou um empréstimo de R$ 320 mil com Pitta para comprar a casa. Na declaração, o valor dado por Eurico à mansão é de R$ 290 mil. De acordo com uma imobiliária de Angra, que acompanhou a compra do imóvel, o negócio teria sido cinco vezes maior: US$ 800 mil, o equivalente a R$ 1,6 milhão.

Os documentos fiscais e bancários do cartola já chegaram à CPI do Futebol no Senado. De acordo com um parlamentar que teve acesso às informações, Eurico teve suas pendengas com o Leão, assim como outros empresários e jogadores. Em setembro de 1999, foi multado em R$ 164 mil. A autuação estaria relacionada a problemas antigos, identificados há oito anos. Outro peixe graúdo que a CPI da Câmara já identificou é Jorge Machado, dono da empresa JM Assessoria de Esportes, um dos donos do passe do jogador Rivaldo. Machado é o campeão das multas aplicadas pelo Fisco no ramo da cartolagem: R$ 5 milhões.

Em tom professoral, fugindo do estilo raivoso, Eurico depôs na quarta-feira 10 na CPI da Câmara e driblou os deputados nos assuntos que realmente interessavam. Não contou como juntou seu patrimônio. Acusou a Rede Globo de montar um complô contra ele e explicou sua atuação como dirigente nos incidentes em São Januário, na interrompida final da Copa João Havelange. Dois dias antes de seu depoimento, Eurico recebeu uma boa notícia: a justiça desportiva, que ameaçou tirar o campeonato do Vasco, referendou a decisão do Clube dos 13 pela realização de uma nova partida entre o time de Eurico e o São Caetano. O jogo será na quinta-feira 18, no Maracanã.
Depois de Eurico, foi a vez de Ronaldinho depor. Ele partiu para o ataque diante das perguntas dos parlamentares. O jogador também defendeu sua patrocinadora, a multinacional Nike. Pressionado para revelar por que o Brasil tinha perdido a Copa da França, ironizou, arrancando gargalhadas da platéia: “Perdemos porque levamos três gols.” O garoto-propaganda da Nike não abriu seu contrato com a empresa e defendeu o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Por fim, recomendou, em retaliação aos trabalhos da CPI, que a “bem-intencionada” Nike desista de investir no futebol brasileiro.