Puro, o mais puro dos metais, o preferido dos magos e alquimistas, está sendo utilizado para confeccionar uma prótese nasal capaz de trazer alívio e salvação para milhões de pessoas acometidas pelos mais diversos distúrbios do sono. Entre esses males está a apnéia (interrupção respiratória também caracterizada pelo ronco), um mal capaz de destruir não só casamentos, mas a própria vida. O nome dessa novidade é rino-stent, um discreto aparelho equipado com pequenas molas. Ele é colocado pelo médico dentro do nariz do paciente para melhorar a respiração e reduzir a níveis mínimos o tão incômodo – e perigoso – ronco. O rino-stent foi projetado, desenvolvido e patenteado pelo médico Samir Tuma, clínico geral de Vitória (ES), que se especializou no tratamento das moléstias do sono.

Inédito, o rino-stent, já em processo de obtenção de patentes internacionais, pode eliminar a necessidade de cirurgias caras e dolorosas, como a de redução do palato móvel ou úvula – intervenção para diminuir a popular campainha que fica no céu da boca ou até extirpá-la. O aparelhinho é uma alternativa que pode agradar em cheio quem sofre de apnéia e não quer fazer cirurgias. Outra opção para quem não consegue dormir direito por causa de problemas na respiração: as tiras adesivas para o nariz, uma solução nem sempre referendada pelos médicos.

Crianças – A proposta de tratamento clínico de Tuma é indicada principalmente para crianças. Se a prótese for utilizada precocemente, poderá evitar deformações dentárias, uma das responsáveis pela má respiração, processo que afeta, inclusive, o crescimento da criança e o seu desenvolvimento intelectual. “Noites maldormidas devido a problemas respiratórios provocam cansaço diuturno nas crianças em idade escolar, fazendo com que seu aproveitamento caia substancialmente e tornando a criança menos apta para a prática de exercícios”, alerta. O trabalho do médico brasileiro tem o apoio da Fundação Cochrane do Brasil, instituição responsável pela legislação e sistematização de estudos científicos em todo o mundo.

De acordo com Tuma, a origem da apnéia e do ronco, bem como de outros distúrbios, surge ainda na infância, provocada geralmente por infecções repetidas. “A consequente má respiração causada por esses fatores pode levar, com o tempo, a um estreitamento da válvula nasal”, explica. Assim, a respiração torna-se difícil, mesmo que a pessoa não tenha doenças. O problema faz com que o indivíduo passe a respirar pela boca, principalmente quando dorme. “É a respiração bucal crônica que determina o aumento da língua, provocando o ronco”, afirma o médico.

Refluxo – A má respiração, reforça o especialista, causa ainda outros problemas graves, como a LER (lesão por esforço repetitivo). “O fato de a pessoa nunca atingir o estágio de sono profundo faz com que sua musculatura permaneça constantemente sob tensão. Com o tempo, surgem dores e inflamação nos tendões”, diz Tuma, acrescentando que os problemas não se resumem a isso. “Expirar pela boca resulta em esforço excessivo, que cria uma força de sucção intensa sobre a faringe e o esôfago.” Quando o paciente está deitado, líquidos são facilmente drenados, provocando o refluxo gastroesofágico, problema que pode gerar inflamação no esôfago. Em muitos casos, o refluxo atinge os seios da face, ouvido médio, brônquios e pulmão. A consequência são mais inflamações e infecções. “A perpetuação desse processo acaba também por deslocar parte do estômago para o interior da cavidade torácica, fazendo surgir uma hérnia de hiato”, completa Tuma. 

Usos e restrições das tiras adesivas

Quem sofre de apnéia ou ronca também pode aderir a um outro método para dormir bem. Trata-se de uma tira adesiva colocada sobre o nariz, que abre as narinas e facilita a respiração. É o mesmo apetrecho utilizado por atletas. Porém, atenção! O acessório, utilizado à noite, só é eficaz quando esses distúrbios do sono são provocados por entupimento das narinas. E isso é raro. “Geralmente o problema está na região da faringe”, afirma Rubens Reimão, neurologista do Hospital das Clínicas, em São Paulo.

Por isso, “é preciso consultar o médico para ele detectar a origem do distúrbio”, ensina Geraldo Rizzo, neurologista do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Caso o resultado confirme que a causa do problema é o nariz, o adesivo é recomendado e pode garantir uma boa noite de sono. O fisiologista Paulo Zogaib, de São Paulo, concorda com o neurologista Geraldo Rizzo. “Só indicamos os adesivos aos atletas com obstrução nasal”, afirma. O uso da tira para jogadores de futebol, por exemplo, tem efeito apenas psicológico porque, no momento da partida, ele fica ofegante e respira pela boca.