17/01/2001 - 10:00
Nem branca nem negra. Mas sinais de fumaça indicam que foi dada a largada para a sucessão do cardeal dom Eugênio de Araújo Sales, há 30 anos no comando da Arquidiocese do Rio de Janeiro, a segunda maior do País. Em novembro, ele completou 80 anos. Aos 75, idade limite para deixar o cargo, o papa João Paulo II rejeitou seu pedido de renúncia. É comum Roma soprar nomes ao vento para queimá-los antes da palavra final do sumo-pontífice. Há indícios de que o lugar de dom Eugênio, integrante da ala conservadora da Igreja, deverá ser de dom Fernando Figueiredo, bispo de Santo Amaro (SP) e criador do padre Marcelo Rossi. Outros cotados são os arcebispos dom Cláudio Hummes, de São Paulo, dom Geraldo Magela, primaz de Salvador, e dom Aloísio Lorscheider, hoje em Aparecida do Norte. O nome sairá de uma lista tríplice apresentada ao papa pela Congregação dos Bispos, em Roma.
“É um processo amplo e demorado”, observa o monsenhor André Carrascosa, conselheiro da Nunciatura. A sucessão ainda não teria começado. Dom Eugênio chegou de Roma na terça-feira 9. Há quem diga que ele faz consultas frequentes a dom Fernando Figueiredo. Mineiro de Muzambinho, dom Fernando nasceu em 1939 e ordenou-se sacerdote em 1967. Licenciou-se em teologia dogmática em Lyon, na França, e foi nomeado bispo auxiliar em 1984. Está há dez anos à frente da Diocese de Santo Amaro, onde é considerado um homem vaidoso, capaz de se aliar tanto aos progressistas como aos conservadores da Igreja. Ele está de férias.
Dom Geraldo Magela, outro cotado, situa-se politicamente no centro. Nasceu em 1933, em Juiz de Fora. Já foi bispo de Toledo e arcebispo de Londrina, cidades paranaenses. Depois disso, exerceu o cargo de secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, em Roma. Há um ano e meio é arcebispo primaz de Salvador. Ele nega ter a indicação: “Não recebi nenhuma consulta. Cuido de Salvador como minha única destinação”, diz. Dom Cláudio Hummes, que pode entrar na lista sucessória, também está de férias. O arcebispo de São Paulo hoje é ligado à ala conservadora da Igreja. Nasceu em 1934, na cidade gaúcha de Montenegro, e foi ordenado padre em 1958. Formou-se em filosofia pela Universidade de Lovain, na Bélgica, e tornou-se bispo de Santo André em 1975. O quarto candidato à lista, cardeal Aloísio Lorscheider, nasceu em 1924 na vila gaúcha de Geraldo. Foi ordenado em 1948. Depois de três anos como bispo de Fortaleza, tornou-se cardeal da cidade cearense em 1976. Hoje está em Aparecida e é muito estimado pelo papa. A principal missão do sucessor, seja ele quem for, será orientar mais de três milhões de católicos e encarar questões polêmicas: a permissividade dos programas de tevê, a nudez no Carnaval, a utilização desenfreada da imagem do Cristo Redentor em anúncios e o crescimento dos evangélicos. Há movimentos também em outros escalões. A saída do padre Zeca (José Luiz de Mello Neto) da paróquia de Copacabana para fazer doutorado em teologia, em Roma, abriria espaço para a chegada de seu concorrente Marcelo Rossi ao Rio. Padre Zeca, outra estrela dos carismáticos, negou a especulação.