17/01/2001 - 10:00
Parece uma façanha impossível derrubar os elevados índices de criminalidade em algumas cidades do País. A implantação do policiamento comunitário, porém, vem mostrando resultados positivos a cada ano, entre eles a diminuição da violência na cidade. Criado pelo governo do Estado de São Paulo em setembro de 1997, o projeto inspirou-se no modelo desenvolvido em cidades do Japão, da Espanha e do Canadá, que priorizam a prevenção do crime. O coronel Renato Perrenoud, do Comando Geral da PM paulista, explica o sucesso: “O objetivo é encontrar soluções pacíficas para conflitos sociais.” Até novembro de 2000 foram registradas pela PM em São Paulo 2,7 milhões de ocorrências, sendo a maior parte (765.130) de atendimentos sociais.
O projeto é uma tentativa de aproximar o policial do povo, mudando, com isso, a mentalidade da sociedade e humanizando a corporação. “O foco da PM passa a ser o cidadão. É preciso tirar do policial a imagem de repressor”, afirma Perrenoud. Para a implantação do modelo, as cidades foram mapeadas e bases fixas e móveis, montadas em microrregiões. O grande diferencial é que os moradores passam a conhecer e confiar nos policiais que atuam no seu bairro. Hoje, há 100 bases fixas no Estado – a meta é chegar a 300 no final de 2001 –, e 82 mil policiais estão trabalhando nas bases comunitárias. Mais de sete mil estão em treinamento para aprender a lidar com o público.
Segundo o comando da PM, no Jardim Ângela (um dos bairros mais perigosos de São Paulo), a violência foi reduzida em 40% depois da Polícia Comunitária. Existem dois postos funcionando 24 horas na localidade. O sargento David Monteiro trabalhava há 21 anos na ronda da região e desde 1998 comanda a base do Largo 13. Todos o conhecem no Jardim Ângela. Ele e o cabo Carmo dão palestras nas escolas públicas e têm como função evitar que o crime cresça, usando estratégias diferentes da polícia tradicional. A integração com a comunidade é tamanha que eles chegaram a reconstruir a casa da passadeira Solange Pinto, depois que as chuvas de janeiro de 1999 destruíram o barraco em que ela vivia com quatro filhos no Morro do Índio.
Solidariedade – O cabo Carmo, que também é pedreiro, lançou a idéia da reconstrução. Junto com David, pediu material aos comerciantes da região. Nove policiais, todos da base comunitária, entraram com a mão-de-obra. Durante o trabalho, que durou quatro meses, um PM do bairro da Penha foi assaltado nas proximidades do Morro do Índio. Levaram sua moto, uma pistola e um revólver da corporação. A polícia tradicional conseguiu recuperar somente a moto. O sargento David, da Polícia Comunitária, foi à favela, conversou com os moradores e no dia seguinte já tinha as armas em mãos. A sua avaliação é de que “não adianta matar bandido. Temos que prevenir, fazer palestras em escolas sobre o perigo das drogas e oferecer opções de esporte, cultura e lazer para as comunidades carentes”.