A agricultura brasileira entrou com o pé direito em 2001. Confirmada a expectativa de especialistas, é grande a chance de o País bater recorde na produção de milho, soja e algodão. A produção de grãos como um todo, por sinal, puxada pelo crescimento dessas três lavouras, tem condições de ser a maior já colhida pelos produtores brasileiros – mais de 90 milhões de toneladas, pelo menos 10% acima da safra anterior. A estimativa é que o saldo comercial agrícola, por causa desse desempenho, cresça pelo menos US$ 1,5 bilhão no ano e o preço final dos alimentos, como ocorreu em 2000, continue subindo menos que a inflação.

As explicações para esse festival de indicadores positivos são as mais variadas. A primeira delas tem a ver com o clima: chuvas abundantes e calor na medida certa animaram os produtores da região Centro-Sul, a primeira a iniciar o plantio. A demanda interna vai bem. E mesmo o mercado internacional promete algumas boas notícias, em meio, é verdade, a preocupações consideráveis. Com relação às preocupações, a maior delas é a queda esperada da demanda de alguns itens, como consequência do desaquecimento da economia mundial. Com isso, o preço das principais commodities agrícolas exportadas pelo País, hoje em um patamar historicamente baixo, pode recuar um pouco mais. É o caso da soja, cujo preço corre o risco de cair nos próximos meses. No mercado interno, os alimentos devem sofrer reajustes abaixo da inflação.

Mas, se o mercado como um todo tem chance de encolher, o Brasil apresenta boas possibilidades de ganhar mercado em cima de seus concorrentes. O economista José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica e sócio da consultoria MB Associados, confia nessa possibilidade. Considera que a agricultura nacional deveria concentrar esforços nessa direção. “A sanidade do nosso rebanho e a produtividade crescente representam uma oportunidade estratégica para os produtores brasileiros. O caso da soja é exemplar: os consumidores europeus não querem saber de soja transgênica e o Brasil é o único dos grandes produtores mundiais a estar livre dela. Ao contrário, eles estão dispostos a pagar um pouco mais pela soja brasileira, justamente porque não é transgênica”, diz Mendonça de Barros. O Ministério da Agricultura discorda. A síndrome européia da vaca louca também deve favorecer. Antes restrita à Inglaterra, já foi detectada em outros países europeus e aumentou o receio dos consumidores. E tem contribuído para o Brasil aumentar suas exportações de frango e mesmo de carne bovina, ainda que nesse último caso o impacto seja menor – na dúvida, muitos europeus estão preferindo simplesmente não consumir carne de vaca. Para tentar controlar a doença, as autoridades da Comunidade Européia proibiram o uso de produtos de origem animal nas rações para o gado – e um dos substitutos será justamente a soja importada do Brasil. O maior produtor brasileiro de soja, Blairo Maggi, considera que a síndrome poderá fazer uma diferença razoável no comportamento do mercado internacional do cereal. “Os estoques internacionais estão bons e não tivemos nenhum problema com o clima, nem aqui nem nos Estados Unidos. Por isso, todos os produtores observam com atenção os desdobramentos da doença que atinge o rebanho europeu. Na minha opinião, é a única coisa que pode mudar o mercado de soja”, diz Maggi.

Aposta – Com uma plantação de 50 mil hectares de soja no Mato Grosso, o empresário está investindo pesado na ampliação da produção de algodão. “Já estou plantando 8,5 mil hectares de algodão e os resultados são muito bons”, afirma ele. De olho no mercado internacional, reclama do protecionismo dos países desenvolvidos. “Nós somos mais produtivos que os americanos, quando olhamos para dentro da porteira da fazenda. Mas é difícil encarar uma briga com o Tesouro americano, que dá subsídios para os produtores de lá”, considera. A redução dos juros pagos na compra de máquinas e implementos agrícolas é apontada por Maggi como um ponto importante para o aumento da produtividade.

O engenheiro agrônomo André Pessoa, sócio-diretor da consultoria Agroconsult, destaca ainda um outro aspecto do bom momento que a agricultura brasileira atravessa. Para ele, o setor agrícola tem todas as condições de puxar o crescimento da economia brasileira. “Acredito que a agropecuária poderá crescer cerca de 5% neste ano”, estima. E mesmo a possibilidade de uma supersafra não é descartada por Pessoa. O risco aí é uma queda generalizada dos preços dos principais produtos, levando consigo a renda dos produtores. Em 1995, diz ele, esse movimento se deu com vigor. “Desta vez, acho que o efeito sobre a renda será bem menor. O País está praticamente sem estoques, a taxa de juros é menor e os agricultores estão razoavelmente capitalizados”, considera. Além disso, o câmbio está melhor para as exportações. Na contramão do otimismo, vai o feijão. Os preços ao produtor estão baixos e a produção da próxima safra deve cair cerca de 10%. Para o consumidor final, o resultado deverá ser a alta do preço nos primeiros meses do ano.