Faz tempo que os sarados descobriram as propriedades energéticas da polpa do açaí. Mas agora pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estão investigando se o fruto tem outros poderes. Eles querem comprovar se o alimento pode combater a hiperplasia – o aumento exagerado de próstata –, doença benigna que representa 80% dos problemas na glândula, de acordo com o urologista Klezer Carvalho. Já o câncer corresponde a cerca de 20% das enfermidades nessa região do corpo. A mesma equipe verifica se a Euterpe oleracea, nome científico da planta encontrada no Norte e no Nordeste, tem capacidade de retardar o envelhecimento e proteger a pele da ação de microorganismos nocivos.

O ponto de partida da investigação foi uma tese de mestrado defendida na UFRJ pela farmacêutica Gracilene Barros dos Santos, maranhense radicada na França. O trabalho começou em fevereiro do ano passado e levou 13 meses para ser concluído. Sob a orientação do farmacêutico Fábio de Souza Menezes, da mesma universidade, o açaí foi dividido em folhas, frutas, cachos e flores, a partir dos quais foram confeccionados extratos com etanol (álcool).

A pesquisa se deteve no extrato de polpa do fruto. Os pesquisadores descobriram que essa parte da planta tem um princípio ativo semelhante ao da palmeira norte-americana Sabal serrulata, ou saw palmetto, usada nos Estados Unidos na prevenção da hiperplasia da próstata. O saw palmetto é utilizado como fitoterápico (medicamento feito de plantas). No entanto, urologistas como Fernando Vaz, do Rio, não costumam receitá-lo. “Não conheço estudos conclusivos sobre seus efeitos”, afirma.

A próxima etapa será testar o extrato da fruta contra o câncer de próstata. “As perspectivas são excelentes”, diz Fábio, que prevê a conclusão do estudo até o fim deste ano. Ele está tão confiante que já deu início aos preparativos para pedir o patenteamento do extrato do açaí como produto fitoterápico.

No laboratório, os pesquisadores também constataram, com a colaboração do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de Santa Catarina, as atividades antioxidantes do extrato do fruto do açaí. Além disso, verificaram seu efeito contra alguns micróbios, o que dá mais credibilidade aos sabonetes de açaí existentes no mercado.

Outra descoberta importante é que os efeitos medicinais da polpa não estão presentes em toda a fruta. “Apenas essa parte apresentou benefícios medicinais para o organismo”, analisa Fábio. Mas se a finalidade for aumentar a disposição, não há diferença. “Nesse caso, ambas têm efeito energético igual”, garante a nutricionista Márcia Medeiros, do Rio.