O ministro Paulo Renato Souza está com uma bomba nas mãos há quase dois meses: a maior greve de professores universitários da história do país. Em todo o Brasil, 490 mil alunos estão sem aulas nas 52 universidades federais desde o dia 22 de agosto. Como se o problema não fosse com ele, o ministro faz vista grossa às reivindicações, suspende os salários dos grevistas depois de ter prometido não retaliar e fecha as portas do Ministério para negociações. Até os vestibulares estão ameaçados. Na terça-feira 9, cerca de 200 estudantes e professores invadiram o auditório do Hotel Glória, na zona Sul do Rio, onde Paulo Renato abria o seminário sobre o Plano Nacional de Educação. Os manifestantes protestavam aos gritos de "canalha", "ladrão" e "terrorista da educação".

"Foi uma decisão do STF, não minha", afirmou o ministro, sobre a liminar concedida pelo ministro Ilmar Galvão que suspendeu o pagamento de salários dos grevistas. Paulo Renato anunciou o não pagamento no dia 27 de agosto, um dia depois de se reunir com representantes do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes). "Ele não quer negociar. Vamos tentar uma audiência com Fernando Henrique. Temos o apoio de todos os partidos, inclusive os da base aliada", diz Roberto Leher, presidente do Andes. Entre as reivindicações, estão a reposição de perdas salariais em 75,48%, a realização de concurso público para 8 mil novas vagas e a incorporação das gratificações ao salário, sem reajuste desde 1995. "Mais de 75% dos nossos vencimentos são gratificações, que podem ser suspensas a qualquer momento. Isso causa muita insegurança", protesta Leher.

SEM PAGAMENTO Paulo Renato disse que não admite a suspensão do vestibular 2002 e cogitou contratar instituições privadas para realizar o concurso. A Universidade Federal Fluminense (UFF) anunciou que pretende adiar o processo seletivo. O reitor da Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio), Pietro Novellino, também acolheu a proposta dos grevistas de mudar a data das provas. Os adiamentos dos vestibulares são o mínimo que vem por aí. Alunos estão ameaçados de perder o ano letivo se o ministro não resolver o impasse. E parece que a retaliação não é melhor caminho. Segundo Roberto Leher, "a suspensão dos salários fez a greve aumentar. Agora temos 100% de adesão".

Apesar de não se responsabilizar pela suspensão, Paulo Renato reafirmou que não haverá pagamentos enquanto durar a greve. Na verdade, a decisão não é dele. Está nas mãos do presidente do STF, ministro Marco Aurélio de Mello, que só deverá julgar na próxima semana o recurso do Andes contra a liminar de Ilmar Galvão. "Vou aguardar a manifestação da União para estabelecer o contraditório e depois dar minha decisão", afirmou Marco Aurélio. Se decidir favoravelmente ao recurso do Andes, o governo terá que liberar o dinheiro para pagamento aos grevistas. Caso contrário, o recurso será julgado pelos 11 ministros. Depois da manifestação no Hotel Glória, o ministro Paulo Renato teve de sair pela porta dos fundos.

Colaboraram: Francisco Alves Filho (RJ) e Eduardo Hollanda (DF)