17/10/2001 - 10:00
Lustres, vasos e copos não são mais as únicas peças da casa feitas em cristal. Depois de séculos restrito a bibelôs e a jogos de mesa, o material virou artigo de moda. A Baccarat, famosa por servir a reis e czares, vem ganhando a simpatia do público jovem com sua linha de bolsas, bijuterias e acessórios – todos de cristal. Grifes como Sonia Rykiel, Lanvin e Dolce & Gabbana causaram furor no verão europeu com mimos como um cinto cravejado de pedras, vendido a US$ 3 mil. No Brasil, a austríaca Swarovski já vendeu mais de 500 mil cartelas de tatuagens de strass, pequenos adesivos que lembram gotas de vidro, para serem grudados à pele. E até os cálices para vinho e champanhe ganham assinaturas de luxo: Bulgari e Versace.
A união do cristal com a moda começou em meados da década passada, quando as grandes cristalerias da Europa perceberam que seu público envelhecia e seus produtos estavam mais para peças de museu. Adicionar cor e contratar designers renomados foi o primeiro passo. Em seguida, marcas como Swarovski e Baccarat passaram a produzir jóias, a um custo 15 a 20 vezes menor que as feitas com diamantes. A tecnologia também ajudou a encontrar novos usos para o material, como a termoaplicação, que permite sua fixação em tecidos. Neste ano, todas as grandes grifes de moda praia nacionais aderiram à técnica. A Rosa Chá, por exemplo, fez um maiô com 126 cruzes de cristal (R$ 2.210). Na Europa, o estilista Icarius de Menezes, brasileiro radicado na Bélgica, assina a sua segunda coleção de roupas de cristal Baccarat, feitas somente sob encomenda. As bolsas e echarpes da marca unem vison e pedrarias.
Ousadias – Em decoração, já se permitem grandes ousadias. Assim como o ator Sean Connery, que tem um banheiro coberto de cristal, a cantora Madonna encomendou ao estúdio de design Beautiful Lines Unexplained (BLU) uma cozinha com todos os artefatos feitos nesse material. O preço do capricho: US$ 300 mil. “O cristal saiu da arte da mesa para a modernidade”, atesta o empresário Lionel Sasson, dono da Grifes & Design, uma megastore de cristais e porcelanas nos Jardins, em São Paulo. Em sua loja, podem-se adquirir de cálices para vinho com a estampa da medusa criada pelo estilista italiano Gianni Versace (R$ 455 cada um) a enfeites, relógios e vasos multicoloridos da B.A.G., da República Tcheca (R$ 126 a R$ 202). Esculturas de cristal da fabricante francesa Daum, a preferida de Elton John e Lady Di, são as peças mais caras e cobiçadas. Produzidas pela fusão a 1.000°C de pequenos cristais coloridos, cada uma leva de dez dias a meses para ficar pronta. E têm um público fiel: só o Cavalo de Dalí, uma escultura criada pelo pintor surrealista em 1989, já vendeu três exemplares no Brasil, a R$ 36 mil cada um. “O brasileiro consome luxo, independentemente de crise”, explica Franck Lamensans, diretor da Daum. Jorge Dornelles, da Baccarat, afirma que “o amante de cristal consome de jóias a vasos e artigos de mesa, com o mesmo vigor”. Prova disso é que as lojas da grife no Brasil são as de maior volume de vendas na América Latina.
Entre os fiéis consumidores está o decorador paulistano Fábio Arruda, 31 anos. Colecionador de objetos de cristal desde a infância, ele já visitou fábricas da Europa e hoje mantém um acervo de mais de mil peças. Seu maior orgulho são 36 taças numeradas da marca francesa Christofle. “Uso em todos os jantares com meus amigos, e até hoje não quebrei nenhuma”, diz. Por medo de ver seus bibelôs danificados, a médica Ana Maria Visconti, 39 anos, guarda seu tesouro dentro de caixas. Ela é membro da Sociedade Swarovski de Colecionadores, um seleto grupo de 380 brasileiros. “O cristal é um gosto caro, que só alimento quando tenho dinheiro sobrando”, conta. No dia-a-dia, ela opta pela discrição de bijuterias. “Quem não conhece pensa que são diamantes de verdade.”