17/10/2001 - 10:00
O Ministério Público Federal, o Congresso Nacional e a Corregedoria-Geral da União entraram na investigação da denúncia que aponta a existência de um esquema de remessas ilegais de dólares ao Exterior por parte de políticos e integrantes do governo. O procurador da República, Luiz Francisco de Souza, determinou à Polícia Federal a abertura de inquérito para apurar o caso. O procurador também vai pedir a quebra dos sigilos telefônico, fiscal, bancário e dos cartões de crédito de todos os envolvidos no esquema. Estão na lista o consultor jurídico do Ministério dos Transportes, Arnoldo Braga Filho, sua mulher, Elizabeth Alves da Silva Braga, e vários doleiros da capital. Um dos principais assessores do ministro Eliseu Padilha, Braga foi acusado pelo doleiro Charbel George Nicolas de enviar US$ 1,5 milhão para contas no Exterior e afastado do cargo por Padilha na sexta-feira 5 em decorrência das denúncias, reveladas por IstoÉ na última semana.
Charbel, conhecido no mercado paralelo de Brasília como “Charles”, era dono de uma agência de viagens que funcionava como casa de câmbio clandestina. Fugiu para o Líbano depois de ser acusado de roubar o dinheiro em vez de depositá-lo nas contas do consultor. Em uma minuciosa carta enviada ao Ministério Público, o doleiro relata a existência de um esquema de desvio de recursos no Ministério dos Transportes. Segundo Charbel, outras autoridades e políticos também usariam doleiros para enviar dólares ao Exterior. Nos próximos dias, o procurador Luiz Francisco determinará que a Receita Federal faça uma devassa fiscal nas empresas e declarações dos doleiros citados por Charbel no relato.
“Com esses procedimentos, esperamos desvendar o esquema todo, inclusive a eventual participação de outros políticos e funcionários públicos”, diz o procurador. A corregedora-geral da União, Anadyr Rodrigues, também abriu um processo para investigar as denúncias de ISTOÉ. Entre outras providências, a corregedora, responsável pela apuração de casos de corrupção no governo, determinou que a Advocacia-Geral da União abra uma sindicância para levantar a participação de Braga no caso, seu patrimônio e suas declarações de renda. Acionou, ainda, o TCU e a PF para apurar os eventuais desvios de dinheiro público. O líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), vai reforçar o cerco ao esquema com dois pedidos de informação ao Banco Central, sobre os mecanismos para remessa de divisas, e ao Ministério dos Transportes, sobre a atuação de Braga no cargo. Pinheiro quer um levantamento dos pareceres assinados pelo consultor. Ele suspeita que há um vínculo entre o esquema denunciado por Charbel e as obras irregulares tocadas pelo DNER. “Como um consultor que ganha R$ 5,2 mil por mês pode ter US$ 1,5 milhão para mandar ao Exterior?”, pergunta o deputado.