Depois de quatro meses de investigação, a polícia civil do Ceará conseguiu desbaratar uma fábrica de clonagem de cartões de crédito que fraudava o comércio de quase todo o País. Os cartões falsificados, no último ano de 8 a 10 mil unidades, eram produzidos em três salas alugadas do Eisenhower Center, na Aldeota, um bairro nobre de Fortaleza. Na forma de encomendas, eles saíam do Aeroporto Internacional Pinto Martins, em vôos direto para as mãos de "clientes" que encomendaram o serviço em outros Estados. A estimativa da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABCS), é que, de janeiro último até agora, o prejuízo das seguradoras de cartões de crédito é de cerca de R$ 150 milhões a R$ 180 milhões. No ano passado, o rombo chegou a R$ 200 milhões.

O esquema clandestino de cartões clonados em Fortaleza envolvia pelo menos 100 pessoas, entre funcionários de lojas, postos de combustíveis e restaurantes. Todos recrutados para copiar dados dos cartões de crédito usados nos estabelecimentos. Uma operação que demora menos de três segundos. Por meio de um aparelho simples que cabe numa mão chamado "chupa-cabras", eles gravavam as informações contidas na tarja magnetizada dos cartões. Dos chupa-cabras, os dados eram transferidos para um notebook e depois seguiam para a linha de montagem: uma parafernália eletrônica, entre computadores e prensa manual. Apreendido pela polícia, esse equipamento pode ser encontrado com facilidade e preço barato no comércio de qualquer grande cidade. "Tudo por, no máximo, R$ 50 mil. Um investimento baixo para quem espera lucrar milhões", diz o delegado Francisco de Assis Cavalcante Nogueira, da Delegacia de Roubos e Furtos, da Secretaria de Segurança Pública e Defesa da Cidadania (SSPDC).

CHUPA-CABRAS Junto com o maquinário, foram presas cinco pessoas da organização. O carioca Jaime Queiroz de Lima, técnico em informática e uma espécie de gerente do negócio, o paranaense Adilson Carlos Constantino, responsável pela coleta de dados e confecção dos plásticos dos cartões; o cearense Erivaldo da Costa Queiroz, que fazia a distribuição das máquinas chupa-cabras; o cearense José Neuro Brandão, porteiro do Centro Empresarial e que liberava o acesso ao prédio para o pessoal da quadrilha e, por último, Evezildo da Rocha Queiroz, flagrado com documentos referentes a novos cartões. Segundo Francisco Cavalcante, o chefe da quadrilha e dono da fábrica seria o empresário Francisco Marcelo de Macedo, um ex-garçom e hoje dono de uma rede de farmácias e de um restaurante em Fortaleza. "Ele fugiu, mas vamos pegá-lo".

Para o delegado, Marcelo de Macedo teria aprendido a clonar cartões durante sua passagem por uma prisão em São Paulo. "Onde, aliás, acreditamos existir outras duas fábricas iguais a essa", diz. Já o consultor de segurança Cláudio Marcelo Ribeiro Borges, 33, especialista em fraudes eletrônicas, explica que, no ranking nacional, o Ceará fica em segundo lugar (perde só para São Paulo) em fraudes em cartões de crédito e em terceiro em fraudes de cartões bancários. Contratado por instituições financeiras para colaborar com a polícia do Ceará no desmanche de fraudes em cartões, ele afirma que nos últimos seis meses as fraudes cresceram seis vezes mais no Brasil. "As empresas prejudicadas ainda gastam muito pouco com segurança levando-se em conta o tamanho do prejuízo que têm assumido com as fraudes".