24/01/2001 - 10:00
Não há termômetro que meça a força, a coragem e a determinação de uma pessoa. Mas no caso de Mário Covas, isso é dispensável. Ele é a própria personificação desses atributos. Não importa que suas pernas tenham tremido ou que ele tenha gaguejado. Esses detalhes tornam-se minúsculos diante da grandeza com que Covas vem enfrentando o câncer, surgido há dois anos, na bexiga. As aparências enganam. De frágil, ele não tem nada. Com a franqueza que lhe é característica, o governador de São Paulo não esconde seu drama pessoal. No ringue da política, ele costuma brigar com o adversário, olho no olho. E é da mesma forma que Covas encara o tumor.
Com sua famosa obstinação, ele passou a enfrentar uma nova etapa da doença. Covas soube, pelos jornais, que o câncer havia atingido a meninge (membrana que separa o cérebro dos ossos do crânio). Seus médicos correram ao Palácio dos Bandeirantes, na segunda-feira 15, para tentar contornar o mal-estar com o paciente. Ao contrário de muitos políticos, Covas é transparente e fala o que sente. Daí a revolta que demonstrou, no dia seguinte, diante do assédio dos jornalistas, após uma reunião no palácio. “Estou para morrer, podem escrever no jornal”, reagiu, depois de caminhar alguns metros, cambalear e ser amparado por seguranças, que o colocaram na cadeira de rodas. O governador recusou-se a diminuir o ritmo de trabalho e anunciou que cumpriria uma agenda pesada, inclusive fazendo viagens ao interior do Estado.
De tarde, Covas resolveu espairecer. Com os filhos Renata e Zuzinha foi ao Shopping Iguatemi, em Pinheiros, onde comprou roupas de verão na sua loja preferida, a Brooksfield. “É a terceira vez que ele vem aqui em quatro anos. A gente é que ia ao palácio. Ele levou peças de cores alegres, como uma blusa pólo verde-limão”, afirma Marcos Matos, gerente da loja. Quem estava lá viu que Covas, de fato, não se deixa abater. Na cadeira de rodas, passeou pelo shopping, comeu omelete com batatas fritas, deu autógrafos, recebeu abraços, beijos, posou para fotos e ouviu palavras solidárias.
Na posse do novo secretário de Fazenda, Fernando Dall’Acqua, na quarta-feira 17, o governador arrancou risos e aplausos das 500 pessoas presentes, ao fazer um balanço financeiro de sua gestão. “Eu queria gastar, mas esses pentelhos não deixavam”, brincou, referindo-se ao ex-secretário de Fazenda Yoshiaki Nakano e a seu sucessor. Dona Lila, sempre a seu lado, também esbanjava força, sem esconder a emoção. Internado no Instituto do Coração (Incor) para reiniciar as sessões de quimioterapia, na quinta-feira 18, Covas teve que dar uma pausa no que mais gosta de fazer: governar e continuar influenciando os rumos da política nacional, como aconteceu ao defender a candidatura a presidente do governador Tasso Jereissati.
