24/01/2001 - 10:00
Um dos esforços da ciência é entender o processo neurológico que restringe os movimentos do corpo após um acidente. Enquanto não chegam todas as respostas, os médicos desenvolvem técnicas para tentar recuperar a habilidade motora de pacientes que, devido a lesões cerebrais, deixaram de se mexer. Aliado à fisioterapia, o uso do biofeedback, um aparelho computadorizado que permite enxergar a ação de músculos, é uma das alternativas que começam a ser aplicadas num centro de reabilitação brasileiro.
O biofeedback é usado para mostrar a pacientes como determinado músculo se movimenta durante a atividade física ou como ele reage a estímulos. O processo é simples. No corpo do doente, são colocados eletrodos que emitem sinais para o computador. O equipamento faz a representação gráfica da ação muscular. Exibida no monitor, a imagem permite ao paciente compreender como os movimentos são feitos. Dessa forma, fica mais fácil saber as respostas do corpo e o que precisa ser aprimorado para que o músculo volte a reagir de maneira normal. Criada por Bernard Brucker, que esteve recentemente no Brasil, a técnica está em aplicação no centro de reabilitação da Unisant’anna, uma universidade paulistana. “A função do biofeedback é fazer com que a pessoa utilize ao máximo sua capacidade de reaprender a se mover”, explica Christiane Cavalcante, fisioterapeuta e coordenadora técnica da unidade. O aparelho não faz nada sozinho, por isso a fisioterapia e os exercícios são fundamentais na reabilitação.
Retomar os movimentos perdidos depende do tipo de lesão sofrida. Quanto maior a área atingida, mais difícil é a recuperação do paciente. Mesmo assim, há esperanças, já que o cérebro sempre tem um time de células-reserva prontas para assumir a função daquelas que morreram. “Só é preciso ensiná-las a fazer isso”, completa. O biofeedback ajuda nessa tarefa. O judoca Cleber Gomes Morete, 25 anos, é prova de que a combinação da fisioterapia com o aparelho dá certo. Ele conseguiu alterar seu quadro de tetraplegia (imobilidade do pescoço para baixo) para tetraparesia. Nesse caso, o doente readquire parte de seus movimentos nessa região do corpo. Morete sofreu uma lesão cervical durante uma competição de judô há três anos. “Hoje consigo dar alguns passos com a ajuda do andador, mas minha meta é voltar a caminhar com o auxílio apenas de uma bengala”, diz. Christiane compara o aprendizado pelo biofeedback com aulas de piano. “Quando dedilhamos o piano e não ouvimos o som como deveríamos, não conseguimos tocar uma música. Com o músculo é a mesma coisa”, afirma.
Múltiplas funções |
O biofeedback tem outros usos. No Hospital das Clínicas de São Paulo, ele vem sendo usado para ajudar crianças que não têm nenhuma doença, mas não controlam a urina. Com a ajuda do aparelho, elas aprendem a segurar e a soltar o xixi. “Essas crianças geralmente sofrem uma pressão social para largar as fraldas e de tanto tentar segurar o xixi invertem as funções”, explica o urologista Flávio Trigo Rocha. Outro uso do aparelho é contra o stress. Nesse caso, é utilizado para ensinar o indivíduo a controlar suas reações orgânicas e emocionais. “O biofeedback é eficaz no controle de crises de ansiedade, fobia e pânico, doenças ligadas à falta do controle sobre as reações do corpo”, conta Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil. |