24/01/2001 - 10:00
As disputas acirradas, definidas por frações de segundo, marcam as 17 provas anuais da Fórmula 1. Para amenizar as tensões, a equipe italiana Ferrari e sua parceira Marlboro organizam anualmente um encontro, que se transformou em tradição na modalidade. Em janeiro, a escuderia reúne pilotos, diretores, técnicos e 120 jornalistas de todo o mundo na bela região montanhosa de Madonna di Campiglio, no Trento, Norte da Itália. Longe da perseguição da rival McLaren, as obrigações profissionais se resumem a algumas entrevistas coletivas. No restante do tempo, a ordem é buscar diversão a qualquer custo. Neste ano, a determinação foi seguida à risca pelas estrelas da equipe: o alemão Michael Schumacher, campeão da temporada 2000, o brasileiro Rubens Barrichello, seu companheiro de equipe, e o italiano Luca Badoer, o piloto de testes. Eles lideraram a festa com passeios de esqui, uma disputada pelada, corrida de kart no gelo e até mesmo um animado show de música, regado a caipirinha, no bar do hotel. Um justo período de descontração para quem vive o ano inteiro, a mais de 200 km/h, em busca de recordes. Fã de futebol (leia quadro), Schumacher foi o artilheiro da pelada, com seis gols. A corrida de kart terminou empatada. Orientados pela escuderia, os três cruzaram a linha de chegada de mãos dadas.
Rubinho não fez feio no gelo. No final da tarde de quarta-feira 10, deslizou nas montanhas da estação, ao lado de Fernando Silva, o Nandinho, seu amigo dos tempos de kart. Apesar da relativa desenvoltura, precisou se jogar na neve, no embalo de uma descida, para não bater de frente com um dos belos pinheiros do lugar. “É melhor rolar na neve do que encarar uma árvore nessa velocidade”, explicou o piloto. Enquanto isso, Schumacher cortava os caminhos de neve com habilidade de profissional. “Ele foi criado neste ambiente”, lembrou o brasileiro.
Apesar da neve que caía desde cedo, a temperatura subiu à noite, no bar do hotel. Os três pilotos voltaram animados de um jantar no alto das montanhas Brenta. A refeição tinha sido escoltada por garrafas de vinho tinto e doses generosas de grappa. Schumacher, o mais entusiasmado, convidou: “Nada de dormir. Vamos comemorar!” Rubinho atendeu ao pedido e, com o amigo Nandinho, preparou várias caipirinhas para a turma. Os aperitivos começaram a fazer efeito e o alemão juntou-se à cantora do bar. Depois de uma sequência musical eclética, que misturou sucessos do grupo inglês The Police ao clássico New York, New York, os três cantaram We are the champions (Nós somos os campeões), música do grupo Queen transformada numa espécie de hino dos vencedores na F-1.
Quarto revirado – Em seguida, Badoer e Schumacher deixaram o palco para fazer de Rubinho a “vítima” da brincadeira da noite. Os dois pegaram a chave do quarto do amigo, jogaram o colchão na escada de emergência, espalharam as roupas, deram um farto banho de champanhe no piso de carpete e voltaram calados. Rubinho subiu para dormir, mas logo voltou ao bar. “Luca, Michael, foi sacanagem. Mas vai ter troco. O campeonato será longo”, prometeu o brasileiro. Passava das quatro horas da madrugada quando um jornalista perguntou a Schumacher se ele realmente iria na entrevista marcada para a manhã seguinte. Recebeu uma resposta sincera. “Não sei como, mas vou.” Às nove e meia em ponto, horário da coletiva, Schumacher entrou na sala de imprensa com fundas olheiras. A temporada 2001 começa no dia 2 de março, em Melbourne, na Austrália. A última prova será na cidade japonesa de Suzuka, em 14 de outubro. O GP Brasil, o terceiro da temporada, está marcado para o dia 1º de abril, em São Paulo. Rubinho, como se vê, terá tempo para retribuir as gentilezas dos parceiros.
Malhação com som de primeira | ||
O piloto Michael Schumacher está otimista para 2001. Nesta entrevista, ele elogia o brasileiro Rubinho Barrichello e diz que torce pela volta de Ronaldinho aos gramados. ISTOÉ – Você acha que, após o título, a Ferrari dará mais liberdade para uma disputa entre você e Rubinho? ISTOÉ – O irlandês Eddie Irvine, seu ex-companheiro de Ferrari, o chamou de egoísta. O inglês Johnny Herbert disse que você é o “ovo podre” da Fórmula 1. Isso o aborrece? ISTOÉ – Você é fã de futebol, tem um time e fez seis gols na pelada. Acha que Ronaldinho, da Inter de Milão, voltará a jogar como antes? ISTOÉ – Até quando você pensa em correr? |