Aos 21 anos, o jovem Robert Bracy parece nascer de novo. Condenado em 1998 a seis anos de prisão por roubo, há pelo menos um ele já teria direito ao regime semi-aberto por ter cumprido um sexto da pena. Mas, para isso, teria de conseguir um emprego. O juiz da 1ª Vara da Infância e da Adolescência do Rio, Siro Darlan, se prontificou a ajudá-lo e entrou em contato com a Secretaria Estadual de Ação Social. A primeira-dama do Estado do Rio, Rosinha Matheus, prometeu empregá-lo no programa Jovens pela Paz (que concede bolsas-estágio para adolescentes carentes). Em vez de regime semi-aberto, ele deve conseguir a liberdade condicional. Robert aguarda apenas a decisão da juíza da Vara de Execuções Penais, Maria Tereza Donatti. “Tudo o que quero é sair daqui, arrumar um trabalho e depois comprar uma casinha para morar”, disse o jovem a ISTOÉ, no presídio Edgar Costa, em Niterói.

A primeira-dama se sensibilizou com a história dramática de Robert. Órfão de pai e mãe, desde os dez anos o menino vivia nas ruas. Em dezembro de 1994, aos 15 anos, foi adotado no Rio por uma família americana, junto com outro menino de rua, Alexandre Luiz Diogo. Robert, que se chamava Hermani José, adquiriu o pomposo nome Robert Bracy. O amigo virou Alex Bracy. Na época, os dois até apareceram no Fantástico, programa da Rede Globo, que os tratou como quem tivesse ganhado na loteria. Viveram menos de um ano na Califórnia, cercados por todo o conforto de uma casa de classe média americana. Em outubro de 1995, no entanto, foram mandados de volta para o Brasil pelos pais adotivos, Robert e Jacqueline Bracy. “Achei que minha vida ia mudar, que ia estudar, trabalhar e ter uma nova família. Mas, de repente, tudo desabou”, lamenta-se o rapaz. Tal qual uma mercadoria que não agradou, o casal americano pôde devolvê-los porque os EUA não são signatários da Convenção de Haia, que rege as adoções internacionais. Ela determina que as crianças adotadas passem a adquirir automaticamente a cidadania do país para o qual foram levadas. Na prática, uma adoção feita no Brasil não é reconhecida nos EUA.

O motivo da devolução? Alex teria molestado a neta de Jacqueline e espiado a mãe tomar banho. Quanto a Robert, a justificativa era de que ele simplesmente não se adaptou. “Até hoje não sei porque voltei”, disse. Retornando ao Rio, o jovem ficou algum tempo vivendo de bicos pelas ruas e acabou preso por roubar uma mulher. O irmão adotivo, Alex, desapareceu no ano passado, quando tentava voltar para os Estados Unidos, depois que a mãe adotiva resolvera aceitá-lo de volta. Desde que retornaram, eles teriam tentado vários contatos com os pais americanos, sem sucesso. Há um ano, apenas Alex conseguiu o perdão.

O Ministério Público tentou conseguir na Justiça uma pensão alimentícia do casal americano. “Mas, agora que Robert já é maior de idade, fica mais difícil”, diz o juiz Siro Darlan. Apesar de querer voltar para os Estados Unidos, Robert não tem esperança de obter ajuda dos pais adotivos. No fim do ano passado, Jacqueline prometeu entrar em contato com a Associação Beneficente São Martinho, que deu assistência aos dois jovens durante um bom tempo. Mas, até o momento, não telefonou nem enviou nenhuma mensagem. De qualquer forma, Robert pode voltar a pensar no futuro.