"Pare, pare. Pode haver vida!” O grito de alerta veio de um agente humanitário que escavava em meio aos escombros na esperança de encontrar sobreviventes do terremoto de 7,9 graus na escala Ritcher, que no sábado 13 abalou de El Salvador aos vizinhos Honduras, Nicarágua, Guatemala e México. Já passava da meia-noite da segunda-feira 15 quando as pás cessaram na cidade de Santa Tecla, a 12 quilômetros de San Salvador, epicentro do tremor. Um silêncio sepulcral tomou conta do buraco infernal de 300 metros de diâmetro, onde equipes de resgate suavam sob as luzes de geradores. Uma hora depois, os escavadores encontraram o corpo de uma jovem mãe abraçada ao de uma criança de nove anos. “Eram minha mulher e minha filha”, disse um rapaz que acompanhou o resgate.

Foram apenas 30 segundos de abalos sísmicos, mas suficientes para deixar El Salvador soterrado. Com 5,8 milhões de habitantes e a maior parte de seu território de 21 mil quilômetros quadrados (cerca do tamanho do Estado de Sergipe) em cima de uma placa vulcânica, os salvadorenhos foram os mais castigados por este terremoto. Enquanto na Guatemala o terremoto fez apenas quatro vítmas fatais, em El Salvador, segundo a Polícia Nacional Civil, mais de 700 pessoas morreram, cerca de 2.400 ficaram feridas e mais de mil estão desaparecidas. O presidente salvadorenho, Francisco Flores, chegou a pedir três mil caixões à Colômbia. Os tremores atingiram cerca de 20 mil casas, além de 98 igrejas, dez hospitais e deixaram um saldo de mais de 18 mil desabrigados. Muitos dos edifícios estão condenados e até o prédio do Congresso sofreu rachaduras.

O bairro de classe média Las Colinas, da cidade de Santa Tecla, parecia um formigueiro de gente desesperada no meio da lama. No momento do tremor, uma avalanche de terra despencou sobre mais de 500 residências. “Senti o sismo. Logo depois, a colina veio abaixo e cobriu as casas”, afirmou Candido Salinas, morador da cidade. O desmoronamento da Cordilheira de Balsamo ocorreu porque há anos os moradores retiram terra dali para construir suas casas. A situação se agravou com os mais de mil abalos sísmicos subsequentes ao terremoto. Na terça-feira 13, dois deles chegaram a atingir a magnitude de 5,4 na escala Ritcher.

Na cidade enlameada, corriam de um lado para outro centenas de enfermeiros, familiares de desaparecidos, soldados das Forças Armadas, bombeiros e voluntários de organizações internacionais num esforço conjunto para salvar vidas. Helicópteros levavam as vítimas para os hospitais das cidades vizinhas. Membros do Corpo de Bombeiros Sem Fronteiras, vindos do México e da Guatemala, utilizaram 24 cães farejadores enviados pela Espanha. Os Estados Unidos mandaram uma equipe de 14 pessoas e US$ 50 mil em ajuda financeira. A Turquia – que sofreu a desgraça de dois terremotos em 1999, com 20 mil mortos – prestou seu auxílio, mandando 22 especialistas. Taiwan enviou sofisticados detectores de sons e calor para localizar sobreviventes.

O sofrimento dos salvadorenhos não se resumia à dolorosa tarefa de encontrar seus familiares nos montes de entulho e cimento. O reconhecimento dos cadáveres foi outro drama. Enrolados em bolsas pretas de plástico, os corpos saíram tão mutilados dos escombros que muitas vezes ficava difícil identificá-los. Além disso, os parentes tinham apenas 30 minutos para reconhecer seus entes queridos, caso contrário eram enterrados em valas comuns.

Enquanto seguiam as escavações, as valas eram tratadas com produtos químicos antibactericidas. O temor é de que haja uma epidemia de doenças. O saneamento do país foi drasticamente atingido e faltam luz e água potável. O Brasil está doando medicamentos e 170 mil vacinas infantis contra tétano e difteria. O embaixador de El Salvador em Brasília, Martin Rivera Gomes, disse a ISTOÉ que já chegaram equipes de resgate de muitos países e que no momento não há necessidade de recursos humanos. O embaixador salvadorenho enviou uma lista ao Ministério das Relações Exteriores brasileiro com os 67 itens de maior necessidade, entre eles, cobertores, colchonetes e depósitos para água e alimentos não perecíveis.

O coordenador da missão humanitária da Visão Mundial no país, David Taylor, disse a ISTOÉ, de El Salvador, que a ajuda internacional tem sido eficiente. “Estamos trabalhando sem parar. Estive com o vice-presidente, Carlos Quintanilha, que afirmou que os donativos estão chegando às famílias”, disse Taylor. As estradas bloqueadas dificultam a distribuição de medicamentos e alimentos para as áreas rurais. Cerca de 30 toneladas de alimentos doadas por Honduras foram levadas de avião para a cidade de Comasagua, a 28 quilômetros da capital e uma das mais atingidas. Taylor prevê que serão necessários dois ou três anos para reerguer o país. Para isso, as organizações humanitárias estão realizando uma campanha de arrecadação de fundos, inclusive aqui no Brasil. O prejuízo material está avaliado em nada menos que US$ 1 bilhão.