Considerado o sucessor de James Stewart no coração dos americanos, verdade constatada pelos mais de US$ 1,5 bilhão que seus filmes arrecadaram, além de dois Oscar de melhor ator, o californiano Tom Hanks, 44 anos, pode se dar ao luxo de arriscar. E foi o que fez. Junto com o roteirista William Broyles, Jr., o ator desenvolveu uma história para as telas inspirada em Robinson Crusoe, na qual ele é praticamente o único personagem. O filme chama-se Náufrago (Cast away, Estados Unidos, 2000), cuja estréia em circuito nacional acontece na sexta-feira 26. Chuck Noland, papel de Hanks, é um engenheiro de sistemas do FedEx que vê sua vida minuciosamente cronometrada sofrer uma transformação brutal. Após pedir sua namorada Kelly Frears (Helen Hunt) em casamento e viajar à Malásia para uma entrega de última hora, seu avião cai no oceano Pacífico. Noland foi o único sobrevivente. Consegue refugiar-se numa ilha deserta onde terá como companhia apenas a foto da namorada e uma bola de vôlei.

Ridicularizada pela imprensa americana, a fita foi comparada ao reality show Survival. Mas agradou em cheio ao público que, surpreendentemente, não se irritou com as intermináveis sequências nas quais um Hanks-Noland, pele curtida de sol, barba e cabelos desgrenhados, passa mais de uma hora de filme sem emitir um som. O diretor Robert Zemeckis nem sequer introduziu trilha sonora. Lançado no país de origem no Natal passado, em apenas uma semana a produção de US$ 90 milhões rompeu a barreira dos US$ 100 milhões. Apesar da boa repercussão, Hanks tem se mostrado ressentido com a preocupação excessiva da crítica em relação à transformação física e aos truques de sobrevivência usados pelo personagem. Embora não tenha admitido publicamente, sua irritação deve-se ao fato de ninguém fazer referência ao seu desempenho.

É uma injustiça, porque Hanks encarou o papel com galhardia num trabalho no qual, mais do que o desafio da sobrevivência sob condições adversas, mostra a capacidade de regeneração de um ser humano afastado de seu meio. Nada, porém, arranca emoções. Náufrago é um filme frio, que não cativa e quase leva ao tédio. Mas no rescaldo da polêmica, quem não deve ter ficado nem um pouco contente é Helen Hunt, que mais uma vez encarna o papel de fiel companheira. Como na maior parte da fita Hanks é um náufrago solitário, o único prêmio de coadjuvante caberia à bola de vôlei, com “quem” ele, aos poucos, passa a conversar. Até deu-lhe o nome de Wilson. Na certa, foi um de seus truques de ator. Sua mulher, com quem vive há 12 anos – um recorde para Hollywood –, chama-se Rita Wilson.