24/01/2001 - 10:00
As idéias do filósofo alemão Friedrich Nietzsche certamente estão entre os legados culturais mais importantes deste século. Há de se concordar, porém, que o surto de loucura que o levou a abraçar um cavalo que acabara de ser chicoteado e mesmo a sua fuga de um bordel são assuntos que atiçam mais a curiosidade do leitor do que outros fatos importantes, como seu relacionamento intelectual com o compositor Wagner. Este seria um dos pecados comuns a todas as biografias. Em Nos mínimos detalhes (Rocco, 224 págs., R$ 24,50), o escritor suíço Alain de Botton realça com bom humor esta suposta deformação. Depois de ter sido acusado de narcisista por uma ex-namorada, o narrador do livro mergulha na tarefa de desvendar a vida da primeira pessoa que lhe cruzasse o caminho. A escolhida foi Isabel Rogers, moça nem bonita nem feia, nem alta nem baixa, nem incrível nem desinteressante.
Obcecado por sua missão, ele literalmente descreve nos mínimos detalhes as suas preferências gastronômicas, a infância, os namorados ou mesmo a árvore genealógica de Isabel. Também questiona com sagacidade a tentativa de enxergar o mundo através da perspectiva do sujeito biografado. Assim, prova como é possível investigar a fundo a vida de alguém sem lhe compreender a essência e como o amor pode turvar a percepção que se tem do outro.
Cheio de referências filosóficas e literárias, Nos mínimos detalhes reflete uma paixão pelas minúcias. Copia assim o preciosismo do francês Marcel Proust, um dos mentores intelectuais de Alain de Botton, que também escreveu Como Proust pode mudar sua vida.