08/05/2015 - 20:00
Rubem Fonseca completa 90 anos na terça-feira 11 com novo livro. “Histórias Curtas”, como os anteriores (e quase tudo o que ele fez depois do romance “A Grande Arte, de 1983), chega às prateleiras acusado de estar aquém do que o autor já produziu. A coletânea de contos é, em primeiro lugar, um livro feito do que a capa promete, um tipo de sinceridade antipublicitária que marca a trajetória do autor desde que começou a carreira, nos anos 60, com “O Prisioneiro”. A antipatia à promoção, aliás, ajudou a construir sua fama de recluso, algo não tão procedente. Rubem Fonseca conversa com quase todos os que o procuram. Contanto que não sejam jornalistas.
Estão ali nas 38 historietas, editadas pela Nova Fronteira, do mesmo grupo da Agir, que comprou os direitos de publicar Fonseca em 2009 por R$ 1 milhão. O compêndio traz retratos cruéis e patéticos do homem urbano em situações de violência, desenhados com sarcasmo e sem concessões, em um estilo que é hoje um sub-gênero fundado pelo autor mineiro. Mas o mais importante (e melhor) de “Histórias Curtas” é que o escritor avança em um lado sombrio da alma humana (o seu favorito) por um aspecto quase inexplorado em sua obra até aqui, a loucura.
Os personagens dos contos são decrépitos, velhos senis, psicopatas e esquizóides de toda sorte que se apresentam ao leitor pelo fluxo de seus pensamentos doentios. E aí a grande arte de Fonseca se faz: ideias absurdas, impensáveis e desumanas ganham movimento natural e humano pela lógica do texto. Em “Jardim das Flores” o narrador-personagem procura um psicanalista para resolver sua ansiedade diante das mulheres. Depois de 15 sessões, decide comprar uma bengala para causar piedade em jovens bonitas, que sequestra e mata, resolvendo assim sua timidez. “Dizia a minha mãe que a gente deve começar um jardim plantando rosas. Este último que plantei deu rosas lindas. Sabem qual é o segredo? Eu enterrei o corpo de Salete no jardim, o corpo de Salete mostrou ser o melhor adubo que eu usara até então”, descreve o narrador em “Jardim das Flores”.
CURTAS
Nas 38 histórias, o autor desfia a rede cruel e patética pela qual caminha
o homem urbano, retomando temas como o sexo, a violência e
a morte e acrescentando a velhice
Em uma das poucas entrevistas que deu, o escritor disse ao “Diário de Notícias” que o conto está mais próximo da concisão do teatro que da fluência do romance. Em suas pequenas histórias, Fonseca se aproxima como poucos do que o dramaturgo Antonin Artaud passou a vida buscando: a linguagem que “pudesse exprimir objetivamente verdades secretas”. Algo que o velho Zé Rubem ainda faz, em livro, melhor que qualquer um.
Ilustração: Fernando Brum