A era Schumacher na F-1 chegou ao fim às três horas e 31 minutos do domingo 22, na pista de Interlagos, em São Paulo. Foram sete títulos e uma década de domínio avassalador. Mas os brasileiros sentiram pouco sua despedida. Estavam mais interessados em festejar a vitória de Felipe Massa na final do campeonato, que acabou pela segunda vez nas mãos do espanhol Fernando Alonso, da Renault. Desde o triunfo de Ayrton Senna em 1993, nenhum compatriota havia subido ao degrau mais alto do pódio em casa. O feito enlouqueceu 70 mil torcedores no autódromo e entusiasmou milhões que viam a prova pela tevê. Além disso, gerou uma agradável dúvida: depois dos oito títulos de Émerson Fittipaldi, Nélson Piquet e Senna, o País teria novamente um piloto capaz de conquistar campeonatos?

A vitória e os 80 pontos da temporada fizeram de Massa uma celebridade. Num boletim divulgado em Interlagos, jornalistas especializados de todo o mundo o elegeram o melhor piloto do ano, à frente de Michael Schumacher. Na segunda-feira 23, para onde se olhava lá estava o rosto desse paulista de 25 anos que aos nove começou a acelerar no kart. Até o presidente Lula aderiu à Massamania. Na manhã da terça-feira 24, condecorou o piloto com a Ordem do Mérito Desportivo, a mais alta honraria concedida a um atleta.

Mas valerá a pena pular da cama cedo aos domingos para acompanhar Massa pelas pistas mundo afora? No que depender da avaliação do tricampeão Nelson Piquet, sim. “A vitória não foi por acaso. Massa está provando que pode vencer. Sem dúvida ele tem chances de nos dar muitas alegrias no ano que vem”, afirmou o ex-piloto. Para Francisco Rosa, administrador de Interlagos e um dos incentivadores do esporte no País, o ferrarista tem tudo para ir longe. “Ele é rápido, consistente e aprendeu muito com o Schumacher. Faltam experiência e malandragem, mas isso virá com o tempo”, diz. Querido pela equipe, abençoado por Schumacher e com a carreira orientada por Nicolas Todt, filho do chefe da escuderia, o francês Jean Todt, Massa larga na frente na disputa interna com o finlandês Kimmi Haikkonen, que deixou a McLaren para ocupar a vaga do alemão.

Em junho, quando soube que Schumacher marcara a aposentadoria para o final do ano, o brasileiro passou a se comportar como um estrategista. Fez questão de se colocar na condição de carregador de piano do amigo – aliás, um termo que ele próprio usou. Assim, ganhou a confiança e o respeito do heptacampeão e do corpo técnico do time, que idolatra o alemão. Schumacher retribuiu com manifestações de carinho. Antes da largada no Brasil, dirigiu-se ao brasileiro, deu-lhe um abraço, um beijo carinhoso e apontou-lhe a pista, como se dissesse: “Agora é com você.” Depois da vitória, Massa, como um menino, pulou no colo do companheiro de equipe e recebeu outro abraço emocionado do campeão que costuma pautar seu comportamento pela frieza. Não é pouca coisa quando se sabe que Schumacher ocupará um importante cargo na escuderia.

Apesar dos ventos a favor, Massa não quer cair na armadilha de prometer ganhar ou amenizar a saudade de Senna, deslizes que custaram caro a Rubens Barrichello. “A única coisa que garanto é vontade de lutar.” Sem o gênio alemão, a F-1 deve ser marcada pelo equilíbrio. Além de Haikkonen, o brasileiro enfrentará o bicampeão Alonso, agora na McLaren, e o inglês Jenson Button, da Honda. Desse quarteto deverá sair o próximo campeão. Uma coisa está garantida: as manhãs de domingo serão mais competitivas.