Sempre atentos à menor movimentação do mercado, os executivos de Hollywood estão chamando de “invasão asiática” o repentino sucesso de filmes provenientes da China, de Formosa, do Vietnã, da Coréia do Sul e adjacências. O front oriental atingiu agora o seu momento de consagração. Premiado com o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, O tigre e o dragão, do chinês de Formosa radicado nos Estados Unidos, Ang Lee, se mantém há oito semanas no ranking americano dos mais vistos, confirmando uma tendência dos grandes festivais internacionais e das salas alternativas do mundo inteiro. No Brasil, não deixa de ser diferente. Está em cartaz em São Paulo As coisas simples da vida, produção de Formosa. O tigre e o dragão estréia em 23 de fevereiro. E no rastro ainda vêm o vietnamita As luzes de um verão, com lançamento previsto também para 23 de fevereiro; o chinês de Hong Kong Amor à flor da pele, aguardado para a primeira quinzena de fevereiro; e o coreano do sul Mentiras, que pode ser visto a partir de 3 de março.

AS COISAS simples da vida: família vista pelo drama de cada um de seus membros

Não foi à toa que Ang Lee – ultimamente se dedicando às temáticas ocidentais – tenha aderido ao filão e decidido dirigir uma fita de kung fu falada em mandarim. O tigre e o dragão destoa completamente dos temas habituais da nova onda asiática. Na verdade, os filmes orientais passaram a chamar a atenção justamente por abandonarem os enredos folclóricos e voltarem a câmera para assuntos mais cosmopolitas, sob um olhar mais exótico. Se alguém, por exemplo, quiser saber como vive uma família de classe média de Taipei, capital de Formosa, vai sair muito bem informado com a visão de As coisas simples da vida (Yi Yi, Formosa/Japão, 2000).

Sem lançar mão das chinesices previsíveis, o diretor Edward Yang acompanha a vida dos Jian, passando por um momento difícil. NJ Jian (Nianzhen Wu), o patriarca, enfrenta uma crise na empresa na qual trabalha. Paralelamente resolve rever Sherry (Suyun Ke), um amor do passado, enquanto a filha adolescente Ting-Ting (Kelly Lee) passa pelas primeiras decepções amorosas e o filho pequeno Yang-Yang (Jonathan Chang) começa a descobrir a vida após o coma da avó. Descrito desta forma, parece enredo de folhetim. Não é. Praticamente sem protagonistas, o filme salta do drama de um personagem para outro, pintando um interessante retrato familiar. O clima poético também domina As luzes de um verão, de Tran Ahn Hung, e Amor à flor da pele, de Wong Kar-Wai, o talentoso diretor de Felizes juntos. Mais ousado, porém, é Mentiras, de Jang Sun Woo, sobre o amor sadomasoquista entre uma jovem de 18 anos e um escultor mais velho. Os temas polêmicos são o forte do novo cinema asiático, que, seguindo a receita de sua culinária, não raro se mostra bastante apimentado.