O Banco Central apertou o cerco à especulação financeira e conseguiu pôr rédeas na cotação do dólar pela primeira vez desde que as torres gêmeas desabaram. Na quinta-feira 27, a moeda americana fechou o dia valendo R$ 2,678, ou 5,9% a menos do que no início da semana. A escalada cambial, que levou o governo brasileiro à tardia criação de um ministério informal de incentivo às exportações, foi freada após a divulgação de novas e austeras regras de atuação dos bancos no mercado. Mas os sinais de que a economia mundial tende a acelerar seu mergulho numa espiral negativa vêm de todos os lados. “Medidas como essas têm efeito paliativo. O pessimismo do mercado permanece”, diz Rogério Mori, economista-chefe do Banco Santos. O próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) já admitiu, com raro realismo, que o planeta está às portas de uma recessão. A instituição prevê que o crescimento global em 2001 será de 2,6%, o menor desde 1993. Um índice de 2,5% já significa, segundo economistas, um forte declínio da atividade econômica. O mesmo estudo cortou pela metade a perspectiva de crescimento brasileiro no ano. Em maio, o Fundo esperava que o Brasil atingisse a taxa de 4,5%. Agora, são esperados 2,2% de alta sobre 2000.

“Todos os indicadores estão ruins”, diz o economista-sênior do BankBoston no Brasil, Marcelo Cypriano. E, ainda de acordo com ele, o governo está muito próximo de atingir o limite de influência de seus instrumentos de política financeira sobre o mercado. “Qualquer atitude agora pode causar sérios efeitos colaterais”, afirma. Subir os juros, por exemplo, para ajudar a conter o dólar e a pressão inflacionária, esmagaria ainda mais a produção e o consumo internos – os pátios lotados das montadoras são um dos mais visíveis sinais da maré ruim. O incentivo às exportações, sempre necessário e bem-vindo, esbarra na diminuição do apetite de compra dos clientes externos. Afundado na incerteza, o País deve acabar colocando a cabeça para fora da água e respirar com certo alívio apenas quando a nave-mãe da economia mundial, os Estados Unidos, voltar a crescer.

E não se pensa em outra coisa por lá. No início da semana passada, o presidente do Banco Central americano, Alan Greenspan, reuniu-se com congressistas para discutir um pacote de incentivos que pode chegar a US$ 100 bilhões, o equivalente a 1% do PIB do país. A dinheirama irrigaria a economia em forma de cortes de juros, socorro direto a setores em dificuldade e na expansão do programa de seguro- desemprego, cuja procura já é a maior dos últimos nove anos. Com a curva do desemprego em alta desde antes dos atentados, a população local fechou a carteira. O índice de confiança do consumidor, calculado há quase 100 anos por um instituto bancado por grandes corporações, atingiu seu patamar mais baixo desde 1996. Medido antes e depois dos atentados, recuou de 114 em agosto para 97,6 em setembro – queda que só não foi maior do que a da crise do Golfo, em 1991.

Paralisia – É o reflexo da insegurança, que acerta em cheio a chamada economia real. O jargão do mundo dos negócios, sempre tão pródigo em criar palavras, foi dominado nas últimas semanas por três verbos dos menos agradáveis: cancelar, suspender ou adiar. A onda de incertezas na economia mundial não escolheu setor. A primeira reação das empresas foi, em geral, de paralisia imediata das ações. Das companhias aéreas, vítimas diretas do terror, aos engarrafadores de água mineral, ninguém escapou da necessidade de se adaptar à conjuntura. A TAM e a Varig cancelaram rotas para os Estados Unidos. Na indústria automobilística, a VW, com 20 mil carros encalhados, abriu um programa de demissões voluntárias. A GM e a Fiat deram férias coletivas. E as autopeças, aos poucos, também vão parando. Na ponta inicial da cadeia, a CSN anunciou que suspendeu seu plano de investimentos para o ano que vem. “Acho que todo mundo vai ser cauteloso daqui para a frente”, diz a presidente, Maria Silvia Bastos.

Os produtores brasileiros de água tinham pronto um agressivo plano de entrada no mercado do Oriente Médio. O projeto repousa agora em alguma gaveta. Sem citar nenhum motivo, a Microsoft adiou por alguns dias o lançamento de seu console de videogame, o X-Box, que finalmente ocorrerá em novembro. Ainda no campo tecnológico, a Palm deixou de lançar uma nova versão de seus computadores de mão. No Brasil, a Fibra DuPont, do setor têxtil, suspendeu o plano de construção de uma fábrica em Americana (SP). A publicidade vive um dilema: como adequar mensagens sempre positivas a um cenário tão cinzento. A Coca-Cola tirou do ar a campanha “Gostoso é viver”. Na indústria do entretenimento filmes prontos, como um do sempre violento Arnold Schwarzenegger, foram colocados de lado.

De todos os cancelamentos, o único que rende motivos para comemoração é o da construção de um restaurante temático na Flórida (EUA). O empreendedor pretendia decorá-lo com réplicas de escombros de tragédias, filmes de catástrofes e barulho de explosões. Soa inacreditável, mas a entrada seria uma traseira de avião arremetida contra o prédio. A excrescência, planejada antes dos atentados, foi definitivamente esquecida.