03/10/2001 - 10:00
No final da noite da quarta-feira 26, o alto comando do PMDB foi à mansão do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), no bairro nobre do Lago Sul em Brasília, para convencê-lo a renunciar no dia seguinte. Os presidentes do Senado, Ramez Tebet, e do PMDB, Michel Temer, e os líderes Renan Calheiros e Geddel Vieira Lima queriam que Jader renunciasse antes da votação no Conselho de Ética da abertura do processo de cassação do mandato por quebra do decoro parlamentar. Jader não topou, na expectativa de que um milagre na Justiça o ajudasse a empurrar o processo com a barriga, mas o ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso Mello, manteve a votação no Conselho. Na quinta-feira 27, o relatório da comissão de investigação que incrimina o ex-presidente do Senado foi aprovado no Conselho por 11 votos a 4. Enquanto os conselheiros votavam, Jader embarcou para Belém, onde anunciará sua renúncia ao mandato nos próximos dias. A exemplo dos ex-senadores Antônio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda, ele sairá pela porta dos fundos para não ser impedido de se candidatar em 2002. Ao optar por disputar as eleições no ano que vem, Jader perde a imunidade parlamentar e enfrentará uma penca de processos judiciais pelo envolvimento nos escândalos do Banco do Estado do Pará, da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia e dos Títulos da Dívida Agrária, os famosos TDAs.
Antes de comunicar aos cardeais do PMDB a decisão de pedir o boné e voltar para o Pará, Jader protagonizou uma sucessão de trapalhadas. Na segunda-feira 24, ele pediu e o líder Renan Calheiros cometeu a insensatez de o indicar para a Comissão de Constituição e Justiça, numa desesperada tentativa de influir em mais uma votação que adiaria a sentença do Conselho de Ética. “Isso é um erro”, chegou a argumentar Renan, antes de, mais uma vez, capitular aos desejos de Jader. Coube a Renan também o comando da defesa do ex-presidente do Senado no Conselho de Ética. Horas antes da votação dos conselheiros, Jader deu seu penúltimo espetáculo. Em um raivoso discurso que teve como principal alvo o senador Romeu Tuma (PFL-SP), coordenador da Comissão de Investigação, ele manipulou dados, distorceu fatos e pinçou trechos favoráveis de documentos e depoimentos para se defender. Mais tarde, sem a presença do senador paraense que assistiu a parte da reunião do Conselho pela TV Senado, os conselheiros desmontaram a versão apresentada por Jader. Na avaliação de dirigentes do PMDB, o ex-presidente do Senado errou também ao recorrer à Justiça na véspera da reunião do Conselho. A derrota no STF, que referendou os procedimentos do Senado, fulminou também o discurso de Jader, que se apresentava como vítima de um linchamento, sem direito a defesa.
Mesmo tendo seguido à risca o roteiro elaborado pelo ex-presidente, a cúpula do PMDB agora quer distância de Jader. “Até que enfim viramos essa página”, comemorou um dos líderes do partido, que na noite da quarta-feira 26 integrou a pequena comitiva que foi à mansão de Jader. Pouco antes da visita, a cúpula do PMDB esteve na casa do senador Amir Lando para acertar com senadores descontentes vida nova para o partido. Prometeram, por exemplo, acabar com o centralismo de decisões adotado nos tempos áureos de Jader Barbalho.
Enquanto os caciques do PMDB buscam a pacificação interna e com os outros parceiros da base governista, Jader deixou Brasília planejando vingança contra todos aqueles que considera seus algozes. Além de senadores do Conselho de Ética, ele está irritado com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas até seus colegas peemedebistas duvidam que, sem mandato, ele concretize as ameaças. Apostam que Jader vai repetir o comportamento de Luiz Estevão e ACM, que até hoje não tiveram coragem de desovar os dossiês que alegam possuir. Na realidade, todos eles estão se dedicando em tempo integral a escapar da Justiça.