03/10/2001 - 10:00
É uma corrida contra o mau tempo. Contratada pela Rússia, a empresa holandesa Mammoet tem poucos dias para retirar do fundo do mar o submarino nuclear Kursk – que naufragou em agosto do ano passado com 118 tripulantes a bordo. Em outubro, começa a temporada de tempestades no Mar de Barents, na região do Ártico, o que pode adiar mais uma vez a operação de resgate, orçada em US$ 130 milhões. Não é fácil retirar da água um submarino com 154 metros de comprimento e 18 mil toneladas, encalhado a 107 metros de profundidade. Ainda mais se ele contém 22 mísseis, 28 torpedos e dois reatores nucleares. As autoridades russas afirmam que os reatores estão desativados e não apresentam riscos, mas a Europa teme uma versão submarina do acidente nuclear de Chernobyl. Especialistas noruegueses irão monitorar os níveis de radiação durante o içamento, inicialmente programado para 15 de setembro, depois adiado por três vezes e remarcado para esta semana.
Os mergulhadores da Mammoet enfrentaram águas com temperatura inferior a 4o C para retirar o lodo do submarino. Esburacaram o casco para instalar ali os cabos de aço que puxarão a embarcação até a superfície. Robôs equipados com uma motosserra cortaram o compartimento dianteiro, o mais danificado e perigoso. A proa do submarino, que só será resgatada em 2002 abriga mísseis, torpedos e uma possível resposta para as causas do acidente, desconhecidas até hoje.
O drama do Kursk começou em 12 de agosto de 2000, após duas explosões consecutivas. Pelo menos 23 tripulantes correram para a popa e passaram horas no escuro, com frio e pouco oxigênio, à espera da morte. “Ainda há esperança de que nós seremos resgatados, precisamos lutar por nossas vidas”, dizia uma nota encontrada junto ao cadáver do tenente Dimitri Kolesnikov, um dos 12 recuperados em novembro do ano passado. A luta foi em vão. Nove dias após o acidente, mergulhadores noruegueses abriram as escotilhas e verificaram que a tripulação não resistira.
Moscou não quer mais atrasos. Teme que segredos militares caiam nas mãos de países ocidentais – isolaram a área e ninguém pode navegar num raio de 32 km do local do naufrágio. O presidente Vladimir Putin espera resgatar, com o Kursk, parte da popularidade perdida na época do desastre, quando ele rejeitou ajuda internacional para socorrer possíveis sobreviventes. Agora, tudo o que Putin e os familiares das vítimas desejam é enterrar os outros 106 marinheiros em terra firme.