03/10/2001 - 10:00
Magicamente, de qualquer ponto do lago do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, as oito figuras vão se revelando. Imponentes – medem sete metros de altura –, esguias e coloridas elas flutuam altivas na peculiar mostra BBV Banco – Tatti Moreno, orixás da Bahia. Elogiado pelo escritor Jorge Amado, que dizia que “as mãos de Moreno arrancam do fundo do mistério o clarão dos encantados, nossa verdade fundamental”, o baiano de 56 anos vem de uma família de artistas. A começar pelo irmão Tutty Moreno, que já foi baterista de Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre outros. Tatti Moreno começou manipulando bonecos de arame aos 12, 13 anos, não se recorda bem, sendo logo encaminhado para a Escola de Belas Artes de Salvador, onde estudou com Mário Cravo Júnior. Influenciado pelo barroco, no início da carreira fez uma série de santos católicos, mas logo voltou-se para o culto afro-brasileiro, estilo que até hoje persegue o escultor de reconhecimento internacional, com exibições na Europa e nos Estados Unidos.
A idéia de uma exposição itinerante aconteceu há quatro anos, quando ele produziu as esculturas para a reurbanização do Dique de Tororó, um dos cartões-postais da Bahia. Os orixás do Ibirapuera em breve viajarão para Curitiba e Rio de Janeiro. Com os rostos cobertos por contas e os corpos por sobressaias de debruns dourados, as imagens representando Oxalá, Xangô, Ogun, Logun Éde, Iemanjá, Iansã, Nanã e Oxum parecem dançar sobre as águas do lago paulistano. À noite, são iluminadas por gerador próprio.
Construídas em fibra de poliéster, fundidas em peças posteriormente encaixadas e colorizadas por vernizes e tintas, quem as vê não imagina que cada uma pese cerca de uma tonelada. “É a exposição dos meus sonhos, minha maior realização”, confessa o artista nascido Octávio de Castro Moreno Filho. Segundo o crítico de arte Jacob Klintowitz, curador do evento, a série dos orixás é uma saga tecnológica. “O artista teve de resolver questões complexas de fundição e adaptação a materiais não convencionais, cálculos de peso, volume e sistema de flutuação, bem como a logística de transporte, que exigiu carretas de até 20 metros de comprimento”, conta Klintowitz. Paralelamente à mostra do Ibirapuera, o Centro Cultural Jabaquara, também em São Paulo, e duas agências BBV
da capital estarão expondo mais dez esculturas medindo 2,5 m
de altura.