03/10/2001 - 10:00
O escritor húngaro Sándor Márai é um desses autores que periodicamente são reerguidos pelos intelectuais europeus ao panteão dos mestres obrigatórios, após anos de esquecimento. Nascido em 1900, Márai foi um dos autores mais populares de sua terra no período entre as duas guerras. Em 1948, ele se auto-exilaria fugindo tanto do nazismo, que combatera, como da ditadura comunista, que criticava por cercear a liberdade de pensamento. Estas atitudes lhe valeram o repúdio de boa parte dos críticos europeus, que desprezavam sua obra, atravessada por delicadas inspirações pequeno-burguesas.
Em 1984, Márai foi viver na Califórnia. Lá ficou até se suicidar com um tiro na cabeça, em 1989. O legado de Eszter (Companhia das Letras, 114 págs., R$ 19), publicado em 1939, é basicamente uma novela. Conta a história de Eszter, que vê voltar à casa da família o único homem que amou, Lajos. Mentiroso, sonhador, ladrão de corações e usurpador do patrimônio familiar, ele retorna após 20 anos de ausência para reivindicar os direitos dos filhos que teve com a irmã de Eszter. Mesmo advertida pelos amigos fiéis e pela governanta Nunu, e consciente de que vai entregar-lhe o último arrimo de sua precária segurança, ela dá ao amante seus últimos bens, resignada a uma paixão que foi seu único esteio emocional. Elegante e sensível, O legado de Eszter é permeado de um fatalismo irresistível e merecia mesmo ser resgatado do esquecimento.