26/09/2001 - 10:00
"Eles tomam cuidado para que a velhice não enrugue mais o espírito do que o rosto." Os artistas anônimos que participam do Prêmio Talento da Maturidade, promovido pelo Banco Real ABN Amro, podem nunca ter ouvido falar sobre o autor dessa frase, mas levam ao pé da letra o que escreveu o ensaísta francês Michel Montaigne (1515-1592) logo depois que o Brasil foi descoberto. Eles têm, no mínimo, 60 anos e participam do prêmio, em sua terceira edição, com uma vitalidade juvenil e um talento de gente grande. Nos dois últimos anos, o prêmio recebeu um total de 11.257 inscrições (gratuitas). Na edição de 2001, as inscrições foram encerradas na sexta-feira 21, e ainda não se tem a conta final. Mas sempre é uma festa, como quer o banco patrocinador, cujo objetivo é incentivar a produção cultural da população com mais de 60 anos, valorizando sua criatividade, seu potencial artístico e ampliando sua participação na sociedade.
O prêmio, por si só, incentiva os artistas novatos, pessoas que, especialmente no Brasil, são excluídas de qualquer ousadia criativa. Além disso, é generoso na premiação: os três vencedores de cada categoria recebem um troféu e R$ 15 mil, R$ 10 mil e R$ 5 mil, respectivamente para o primeiro, segundo e terceiro lugares. As categorias são artes plásticas, monografia (neste ano, o tema é "O trabalho voluntário como promoção da integração social do idoso"), música vocal e literatura (conto e poesia).
Participam pessoas de todos os lugares do Brasil, o que é mais uma alegria para os vencedores porque o banco se ocupa dos custos de transporte e hospedagem (com um acompanhante) na solenidade de entrega dos prêmios. Em geral, são aposentados, cujo rendimento os exclui de toda atividade que não seja a básica, ou seja, morar, comer, ver televisão.
No ano passado, o prêmio revelou muitos talentos, além dos vencedores. Nas artes plásticas, por exemplo, o médico aposentado Konstantin Christoff Raeff, então com 77 anos, de Montes Claros (MG), fez uma obra de arte com acrílico e colagem recorrendo a um motivo pouco inspirador: a sogra. Pois não é que a "sogra" de Raeff quebrou todos os estereótipos e ressurgiu divertida, colorida, abafando na pop art.
Ele foi médico cirurgião. Quando deixou a cirurgia, virou artista. Um artista com muitos anos de vida que teima em não entrar para a categoria dos idosos. Como o mineiro Fernando Pio Penna, 69 anos, outra menção honrosa em artes plásticas, todos os participantes do Prêmio Talentos da Maturidade têm o mesmo segredo para manter a jovialidade: nunca parar de sonhar.