26/09/2001 - 10:00
Parece o clube do Bolinha. Nas paredes, imagens de bicicletas e carros antigos. Na sala de espera, revistas recheadas de mulheres nuas entretêm os clientes entre um cafezinho e outro. Na hora marcada, um sujeito vestindo um macacão preto se aproxima, com as ferramentas de trabalho nas mãos. Uma oficina de luxo? Longe disso. Ali, ninguém precisa saber onde fica a cebolinha do radiador. O cheiro de óleo cede espaço a fragrâncias e, em vez de graxa, cremes e tinturas tingem as roupas dos funcionários. Trata-se da Garagem, uma clínica de beleza de São Paulo onde mulher não entra. Exceção, claro, para as recepcionistas, manicures e esteticistas. “Nos salões mistos, os homens que gostam de fazer as unhas costumam ser alvo de olhares desconfiados da maioria das mulheres. Aqui, a gente fica mais à vontade”, afirma o estudante de publicidade Enrico Montes, 24 anos. Acostumado a fazer limpeza de pele, Montes se surpreendeu com opções quase desconhecidas do universo masculino, como a hidratação facial com algas marinhas. “O rosto sai bem mais macio”, diz.
O testemunho de Montes referenda a teoria do publicitário Celso Forster, um dos três donos do empreendimento, que, segundo ele, é o primeiro do Brasil a restringir o sexo do cliente. “A falta de privacidade afasta os homens das clínicas mistas. Muitos ficam inseguros entre mulheres”, teoriza. O cardápio da casa é extenso e variado. O cliente pode contratar um pacote e permanecer de três a sete horas no salão. Além de cabelo, barba, mão e pé, entram na lista massagens terapêuticas, métodos de emagrecimento a bandagem e calor, aplicação de prótese capilar, peeling e até botox (injeção de substâncias na região da testa para eliminar os sulcos de expressão). Tudo para os vaidosos representantes do sexo forte.
Afinal, mesmo que lentamente, eles estão aderindo cada vez mais aos cuidados dermatológicos. “A diferença é que os homens preferem alterações discretas e menos repentinas para que os colegas não percebam. Os que fazem botox, por exemplo, pedem para que seja suave. Eles não querem perder totalmente as marcas de expressão, como as mulheres”, entrega a dermatologista Mônica Aribi Fiszbaum, de São Paulo. Peelings a laser e depilações permanentes na região do pescoço são algumas das frequentes solicitações masculinas. Em seu consultório, o sexo masculino representa 20% dos pacientes. O economista Ismar José Abrão, 53 anos, é um deles. Fez um botox há dois meses e está radiante. Desde então, já se rendeu ao peeling a laser e está tirando algumas manchas do rosto com aplicação de ácido. “Sou vaidoso. Gosto que os amigos reparem que estou bem, principalmente quando nem desconfiam que faço tantos tratamentos”, admite. Abrão não vive sem um hidratante e um protetor solar, exigências de Mônica. “Os homens estão cada vez mais receptivos a cremes, desde que possam usar apenas um produto e não tenham de aplicá-lo várias vezes por dia”, resume a dermatologista.
Para satisfazer esse público, não param de surgir novidades. Vale tudo: potinhos de todos os tamanhos e preços prometem vencer rugas e marcas de expressão, adiar o envelhecimento, garantir a alvura dos cabelos grisalhos, manter a pele livre de poluição e oleosidade, proteger e suavizar o rosto após o barbear, e ainda brindar os mancebos com rituais impecáveis de aromaterapia. Há cinco anos, eles eram obrigados a se virar com os cosméticos femininos. Para escolher os produtos nas prateleiras das perfumarias, quase enterravam a cabeça no chão, tamanha a vergonha. À sua disposição varonil havia apenas desodorantes, colônias e cremes de barbear. Hoje, a maioria das grandes empresas de cosméticos já lançou uma linha masculina. Parte desse vasto acervo pode ser encontrada na Cosmoprof Cosmética, a Feira Internacional da Beleza, realizada até o dia 24 de setembro no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo. Segundo João Carlos Basílio da Silva, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmética (Abihpec), um em cada 15 machos já aderiu às loções dermatológicas. “Parece pouco, mas é um número fabuloso se pensarmos que, há cinco anos, menos de um homem em cada 100 usava esse tipo de produto”, explica. Ótimo para os fabricantes, melhor para os cinderelos.