O século XXI chegou acompanhado pelo medo. Depois do maior atentado terrorista da história, que atingiu em cheio o coração da América, outros fantasmas assombram o mundo, além do medo de que tragédias semelhantes possam se repetir. Munidos de armas químicas, biológicas ou até de artefatos nucleares, grupos terroristas podem provocar matanças sem precedentes. Desde 1991, quando ruiu o império soviético, são comuns notícias de roubo de elementos usados na construção destes armamentos, principalmente no território da ex-URSS. Um relatório da CIA sobre as perspectivas para os próximos 15 anos, divulgado em janeiro, já alertava que terroristas e Estados considerados “não confiáveis” podem usar armas de destruição em massa, tendo como alvo principal os Estados Unidos e seus interesses no mundo.

Serviços de informação de vários países sabem hoje que grupos terroristas já controlam a chamada “arma atômica dos pobres”, a bacteriológica, que ataca o sistema nervoso e pode matar milhares de pessoas. Apesar de a ameaça de um atentado com arma atômica ser menor do que um ataque químico ou biológico, a CIA não descarta o perigo nuclear. Depois do atentado ao World Trade Center e ao Pentágono, atingidos por boeings, quem garante que terroristas não ousem jogar aviões sobre uma usina atômica? O clube nuclear oficial é composto por cinco países: Rússia, que tem 28 mil ogivas táticas e estratégicas (sendo que 18 mil destas estão para ser desmanteladas); Estados Unidos, com um arsenal de cerca de 12 mil ogivas; Inglaterra, com 400; França, que tem um arsenal de 500; e a China, com 400. Estes países são, há 30 anos, signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Mas existem outros países nucleares, que não assinaram nenhum tratado, como Índia, Paquistão e Israel. Há ainda o clube dos suspeitos de tentar construir secretamente bombas nucleares: Coréia do Norte, Irã, Iraque e Líbia. As ex-repúblicas soviéticas Ucrânia, Casaquistão e Bielorússia desde 1996 já se desfizeram de seus arsenais nucleares. Agora, esse poderio atômico está concentrado nas mãos dos russos.

Insegurança – A Rússia de Vladimir Putin já não é mais inimiga dos Estados Unidos. E mostrou isso após o atentado da terça-feira 11. Ela já provou o gosto amargo do terrorismo islâmico, promovido pelos rebeldes chechenos. Numa atitude inédita, uniu-se à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), no apoio à punição dos terroristas. Afinal, o principal suspeito, o saudita Osama Bin Laden, é um velho inimigo dos russos, por ter lutado na guerra do Afeganistão e na Chechênia. Mas o fato de a Rússia ser um celeiro de armas biológicas, químicas e atômicas preocupa os Estados Unidos e a Europa por suas instalações precárias, pela deterioração dos equipamentos e por causa dos vários casos de contrabando de material nuclear. Em junho, o presidente do Centro de Informações para a Defesa, Bruce Blair, um dos maiores especialistas em armas nucleares russas, alertou que os americanos deveriam dar prioridade à segurança dos arsenais nucleares em território russo. Ele avisou da possibilidade de um lançamento inadvertido de um míssel nuclear.

Como se não bastasse isso, a Rússia, hoje empobrecida, abriu seu balcão de negócios nucleares. Está negociando, por exemplo, a construção de um reator nuclear com Miamá, na Ásia, um dos países mais pobres do mundo. “Como pagamento para o reator, nós podemos aceitar arroz e peixe”, disse o embaixador russo Gleb Ivashentsov. A Rússia já havia irritado os americanos ao ajudar o Irã a construir um reator e a vender combustível nuclear para a Índia. A Agência Internacional de Energia Nuclear informou no início de setembro, que o contrabando nuclear – principalmente de elementos como plutônio e urânio – cresceu na Ásia Central, no Cáucaso e na Turquia. E é justamente no Sul da Ásia que mora o perigo terrorista. O Afeganistão – dominado pela milícia do Taleban e que abriga Osama Bin Laden – faz fronteira com quatro países da Ásia Central ( antigas repúblicas da extinta URSS): Turcomenistão, Uzbequistão, Tadjiquistão, e Quirguistão.

Colaborou Hélio Contreiras (RJ)

O MUNDO EM RISCO

 

ARMAS ESTRATÉGICAS – São as armas nucleares de grande poder de destruição destinadas a atacar alvos militares, com o objetivo de neutralizar a capacidade de reação do adversário. Por isso, têm longo alcance (cerca de 10 mil quilômetros) e possuem alto teor destrutivo (algumas têm dez ogivas cada)
• ICBM (Míssil Balístico Intercontinental) – Lançados de silos, têm maior precisão graças ao seu tamanho. A desvantagem é que levam muito tempo para alcançar o alvo. Os EUA têm os Minuteman, Titan II e Peacekeeper e os russos, os SS-18; SS-24 e SS-25
• SLBM (Míssil Balístico Lançado de Submarino) – Têm alcance dos ICBMs (cerca de 10 mil quilômetros) e a mesma capacidade de destruição. Apesar da vantagem de estarem ocultos, são menos precisos em razão do tamanho menor
• Bombardeiros estratégicos – São grandes aeronaves capazes de transportar bombas nucleares e mísseis de cruzeiro. Podem mudar de rota durante um ataque, mas têm a desvantagem de ser muito lentas para atingir o alvo

 

ARMAS TÁTICAS – Armas nucleares de baixo poder de destruição, como mísseis de curto alcance (máximo de 5 mil quilômetros) ou granadas de artilharia
Bomba atômica – Já podem ser fabricadas bombas de pequeno porte, que são conduzidas em aviões comuns. Elas podem causar, por exemplo, a destruição de metade de Manhattan. É possível que a tecnologia de enriquecimento do urânio seja dominada por países como Irã, Iraque e Coréia do Norte. Artefatos nucleares podem ser transportados numa mala de viagem comum e detonados
Armas químicas – O acesso de terroristas às armas químicas é mais fácil do que às nucleares. Essa possibilidade motivou o acordo de controle de exportação de materiais sensíveis