26/09/2001 - 10:00
Na Liverpool dos anos 30, quando os Beatles nem sequer eram um brilho nos olhos de seus respectivos pais, a pobreza e o desemprego levavam a população da cidade portuária inglesa ao desespero. As fábricas iam fechando devido à crise econômica mundial e o terreno, se tornando fértil para a implantação de qualquer ideologia que prometesse algum tipo de salvação. Ao focalizar uma dessas famílias irlandesas católicas, sua luta para manter os quatro filhos e a dura convivência com a vizinhança protestante, o diretor inglês Stephen Frears traçou um retrato sem retoques do esgarçamento das relações diante da adversidade. Radicado nos Estados Unidos, Frears, a exemplo do americano Robert Altman, parece ter prazer em fazer um filme completamente diferente do anterior. É assim que, depois de Terra de paixões, um faroeste tardio, Alta fidelidade, adaptação em linguagem teatral do best seller de Nick Hornby, e Código de ataque, refilmagem em preto-e-branco do clássico de Sidney Lumet, este Liam (Liam, Alemanha/Inglaterra – França, 2000), em cartaz em São Paulo na sexta-feira 28, marca o retorno do cineasta às questões sociais.
Seguindo uma linha que já começa a mostrar sinais de esgotamento, a história é contada mais uma vez sob a ótica de um menino, Liam (Anthony Borrows). Reprimido pela educação católica, o garoto gagueja e sente-se culpado por tudo que acontece ao seu redor. Seja pela insegurança do pai – interpretado pelo excelente Ian Hart –, pelo nervosismo da mãe (Claire Hackett) ou pelo mutismo do irmão (David Hart). Sua única amiga é a irmã Teresa (Megan Burns), que trabalha como empregada de uma família judia. Criticado pelo excesso de coincidências ocorridas na trama, a fita só se sustenta pelo desempenho dos atores e pelo tom épico da narrativa.