19/09/2001 - 10:00
Qual a primeira coisa que te vem à cabeça ao imaginar uma hora de fitness? Provavelmente, exercícios puxados ou em ritmo alucinante. Mas o conceito está mudando. Já é possível encontrar em algumas academias opções que vão além da modelagem do corpo. Agora, a onda da malhação é a ginástica zen. O objetivo é trabalhar o físico e a mente. “Com a correria do dia-a-dia passamos a sentir necessidade de cuidar não só da estética, mas também de aliviar o stress”, afirma Mauro Guiselini, professor de educação física do Centro de Integração do Corpo, em São Paulo. Para esse ideal ser atingido, algumas academias mesclam atividades que enrijecem os músculos com técnicas para relaxar.
A tendência é que a ginástica zen venha para ficar. Dados da Associação Internacional de Academias Americana (IHRSA), em São Paulo, mostram que nos Estados Unidos o número de locais a oferecer a atividade dobrou nos últimos quatro anos. “Parece que as academias estão dispostas a apostar suas fichas na modalidade”, acredita Marcos Tadeu, diretor da IHRSA no Brasil. A rede Companhia Athlética, com unidades em várias cidades brasileiras (Brasília, Belém e São Paulo, por exemplo), é uma delas. Nesta semana, ela lança a aula prana (respiração para os indianos) balls (bolas, em inglês). Na modalidade, trabalha-se o corpo com o uso de três bolas coloridas de diferentes tamanhos (pequena, média e grande). O ritmo da respiração deve ser constante. “Muitas vezes, ao fazermos ginástica, prendemos o ar. Isso dificulta a oxigenação do corpo e prejudica o exercício”, afirma Elaine Usberti, professora da academia e uma das criadoras do método.
Aroma – Em uma aula demonstrativa para professores foi possível conhecer um pouco da modalidade. Alguns movimentos do prana ball são justamente de inspirar e expirar, trazendo as bolas médias – que são perfumadas – próximas ao nariz. Antes de começar a sessão, o aluno escolhe uma fragrância e a borrifa na bola. São quatro tipos de perfumes: terra, fogo, ar e água. O aroma água, por exemplo, lembra o cheiro da brisa marinha. O fogo remete à madeira queimada. “As fragrâncias estimulam a nossa memória olfativa e nos trazem sensações de bem-estar”, garante Eliane. “Quando sinto o perfume do ar, que parece o cheiro do campo, me recordo de andar descalça na grama durante minha infância”, conta.
Não são apenas as atividades perfumadas que tomam conta do espaço. Os exercícios de alongamento, por exemplo, são feitos de maneira lúdica para descontrair a turma. Os alunos deitam sobre a bola grande e esticam a coluna. “Algumas vezes eles ficam rolando de um lado para o outro”, diz Elaine. Já as bolas pequenas ajudam a aliviar a tensão do pescoço.
Uma modalidade semelhante é o chi (respiração em chinês) ball, disponível no Brasil há cerca de dois anos. Ela usa exercícios de equilíbrio e alongamento para garantir o bem-estar físico e mental. Nesse caso, as atividades são realizadas com bolas macias e que cabem na palma da mão. Os acessórios são impregnados de óleos essenciais, substâncias extraídas de plantas para tratar vários males de saúde. “Eles são terapêuticos e estimulam determinadas regiões do cérebro ligadas às emoções”, explica Maurício Marchesani, introdutor da técnica no País e professor de educação física do Sesc Ipiranga, em São Paulo. Cada um dos aromas é representado por uma cor. O lilás é o perfume da lavanda, usado para acalmar os ânimos. A bola amarela tem o cheiro do limão, que estimula a circulação. É o aluno quem escolhe a fragrância que deseja. Mas o chi ball não é apenas relaxamento. Os exercícios buscam soltar as articulações do corpo e melhorar a flexibilidade. “As bolas facilitam o alongamento”, explica Marchesani. O chi ball também pode ser encontrado na academia de dança Shirley de Castro, em Brasília.
Controle – Para aqueles que desejam apenas descansar o corpo a Fórmula Academia, de São Paulo, lança até o final deste mês a ginástica anti-stress, com exercícios simples de relaxamento. Já houve uma aula demonstrativa para dez alunos, comandada pelo professor Idel Fuks, especializado em técnicas de controle de stress. A sessão acontece num espaço muito diferente das salas agitadas das academias. Com a luz apagada e uma música suave, o professor induz a turma a relaxar. Os alunos ficam deitados em colchões e são instruídos a soltar, aos poucos, cada parte do corpo e a respirar profundamente. “O objetivo é mostrar às pessoas a importância de ter um tempo para cuidar apenas delas”, afirma Fuks. Ao final da sessão, todos se sentam e comentam o que acharam.
Para o professor de educação física Mauro Guiselini, o ideal é aliar musculação ou atividades aeróbicas às técnicas de relaxamento. “Não adianta apenas tratar a mente se os músculos do corpo estão frágeis e o nosso condicionamento físico ruim”, informa. Guiselini inventou um programa chamado de mobilização e equilíbrio da energia pelo exercício, que busca unir as duas modalidades. Ele consta de corridas na esteira, pedaladas na bicicleta, uso de aparelhos de musculação e uma sessão de relaxamento ao final da aula. “Depois de fazer os exercícios, os músculos se encurtam e o corpo fica tenso, o que desequilibra o fluxo energético do corpo. É preciso um toque suave para fazê-la fluir e recuperar o equilíbrio”, assegura. Os toques são feitos numa sala zen, com pouca luz. O fundo musical é o barulho de água vindo de uma fonte, onde são despejadas algumas essências. O executivo Rafael Mauaccad, 50 anos, conta os minutos para chegar a hora do “toque”. “É a parte da aula que mais me dá prazer. As emoções também são trabalhadas. Não adianta ter apenas o corpo bombado”, observa o aluno.
A ginástica zen pode ser adotada por pessoas de todas as idades. O terapeuta corporal Eduardo Fraga, de São Paulo, ensina exercícios de respiração e alongamento, entre outros, para um grupo de alunos com mais de 60 anos. Durante a aula, por exemplo, ele pede aos participantes que digam o nome bem alto, várias vezes. “Geralmente as pessoas de idade falam baixinho. É preciso estimulá-las a soltar a voz”, explica. Ele também recorre à reflexologia (massagem feita em determinados pontos do pé) e a pequenas bolas, que são usadas para “bater” nos músculos para ajudar a soltar as articulações. A tradutora Elza Oliveira Marques, 74 anos, é uma das mais assíduas do Studio Eduardo Fraga. “Toda aula é uma surpresa, o que estimula a curiosidade”, diz.
Estabilidade – Quem é adepto das atividades na água também encontra opções para ficar com o corpo e a mente sã. Uma delas é o hidro-core (em português, core significa núcleo, que, no caso, remete ao abdome, ao quadril e às costas). “As atividades buscam trabalhar a flexibilidade e a estabilidade do aluno na água, que é um meio mais difícil de manter o corpo em equilíbrio”, explica a professora Vera Gonçalves, da Fórmula. Os exercícios são puxados e feitos ao som de música indiana. O objetivo é deixar os músculos do complexo core fortes e torneados. “Só assim as nossas emoções e nosso corpo ficam em forma”, acrescenta.