Os chocantes atentados da terça-feira, 11 de setembro, em Nova York e Washington, vão ficar para sempre na memória dos habitantes do planeta. Assim como entrar no mar logo depois de assistir ao filme Tubarão, alguns atos antes corriqueiros, como viajar de avião, não serão mais os mesmos. Difícil será apagar da lembrança a imagem – mostrada pelas tevês em vários ângulos e quase à exaustão – da curva perfeita executada pelo 757 da American Airlines para, a uns 600 quilômetros por hora, invadir, com uma devastadora bola de fogo, uma das torres do World Trade Center. Inevitável a sombria comparação com os camicases japoneses que atacaram Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941. Os aviões Zero que eles pilotavam eram bem menores que um 767 ou um 757 e não tinham a menor chance de levar a bordo, além de um piloto movido por estranho fanatismo, dezenas de passageiros comuns, como o leitor ou o autor destas pesarosas linhas, para um insano sacrifício dentro de quatro Boeings de carreira usados na megainsanidade cometida naquele 11 de setembro.

O cientista político Braz de Araújo, coordenador do núcleo de políticas e estratégia da USP, declarou, em entrevista à subeditora Luiza Villaméa, que “a semelhança entre um camicase japonês, um terrorista que se inspira no islamismo ou um cristão que, na época das Cruzadas, usava o nome de Deus para combater os infiéis, é que todos operam com uma variável religiosa”. Respaldados pelo Bushidô, o código de ética dos samurais, os camicases morriam em honra ao imperador, para eles uma entidade divina.

Como os camicases, o palestino que veste um colete recheado de explosivos e se autodetona em um shopping center israelense lotado o faz como se estivesse cumprindo uma nobre missão. E o suporte vem do próprio Alcorão, o livro sagrado do islamismo, que, apesar de condenar o suicídio, libera o sacrifício por uma causa nobre. Se os milhares de mortos da terça-feira, 11 de setembro de 2001, não servirem de lição contra a arrogante intransigência e o fanatismo assustador, só resta pedir a Deus, Buda e Alá que nos protejam!