Uma nova febre invadiu as prateleiras das principais relojoarias do País: a versatilidade. Para se estabelecer no mercado não apenas como fabricantes de relógios mas principalmente como lançadoras de tendências em acessórios, as grandes marcas estão conferindo aos antigos tique-taque formas, no mínimo, ousadas. As grifes Calvin Klein e Donna Karan, por exemplo, não mais restringem os relógios de pulso a mostradores de horas sobre pulseiras de afivelar. Criaram peças que dão até duas voltas em torno do braço e se fixam no punho com a mesma elegância de uma jóia. A empresa inglesa Dunhill, especialista em acessórios masculinos, foi ainda mais longe. Elaborou um relógio abotoadura. E a grife suíça Swatch incorporou a versatilidade como principal tema de suas duas últimas coleções. Acoplou os ponteiros a chaveiros, bolsas e pulseiras de pano que podem ser substituídas por qualquer outro tecido. Portanto, a partir de agora, ao perguntar as horas para um estranho não estranhe se no lugar do relógio de pulso ele lhe mostrar o peito, a cintura ou mesmo a bolsa a tiracolo.

Batizada de Duality, a linha de relógios da Calvin Klein que dá duas voltas no pulso foi inspirada na coleção de cintos elaborada pela grife em 1999. Para o gerente de vendas da marca no Brasil, Luiz Campos, ela mostra que o consumidor não mais se satisfaz com as peças tradicionais. “Lançamos os modelos de giro duplo em maio do ano passado, pensando que, por serem muito diferentes, teriam a imagem desgastada no máximo em um ano”, recorda Campos. Engano. “As peças fizeram tanto sucesso que as vendas cresceram 30%”, completa ele. De olho no público que busca acessórios versáteis, a Calvin Klein pretende lançar até o final do ano pelo menos um relógio diferente por mês. As pulseiras de couro que marcam a linha Duality devem aparecer nos lançamentos futuros pois combinam tanto com ocasiões chiques quanto despojadas. Ousada, a grife promete investir também em adereços com diamantes que terão mais jeito de jóia do que de relógios. Concorrente direta da marca, a Donna Karan já aposta nessa tendência. Trouxe na sua última coleção um relógio de aço que, se visto de relance, parece mais uma pulseira de brilhantes.

Precursora na versatilidade em relógios há 17 anos, a empresa suíça Swatch foge da linha luxuosa. Aposta na diversidade de modelos e estampas, mas continua tendo o plástico como principal matéria-prima. Nas duas últimas coleções, o material ganhou formas ainda mais malucas. No modelo Tracolla, por exemplo, enxergar as horas é mero detalhe. O que chama atenção é a bolsa a tiracolo com mostruário na alça. Perfeita para o verão, a novidade é inteira de plástico e à prova d’água. Da mesma coleção que a bolsa, o relógio Freunde também impressiona pela versatilidade. Seu mostruário removível é preso a uma pulseira de pano de amarrar feito cadarço de tênis, mas pode ser encaixado em qualquer outro tecido flexível. Ou seja, os moderninhos podem acoplar a peça a camisetas, calças e blusas. O efeito final é parecido com o dos bottoms que decoravam os jeans nos anos 80, só que no lugar das mensagens engajadas estão os ponteiros de minuto e hora.

O diretor da Swatch no Brasil, Carlos Byron, afirma que a intenção da marca em investir na versatilidade é justamente firmar-se como grife de moda e não relojoaria. “Acreditamos que os relógios não são feitos apenas para mostrar as horas e estamos cada vez mais antenados com as tendências de moda, por isso a diversidade ”, explica. As vendas da marca confirmam o investimento e, de quebra, mostram o quanto o consumidor brasileiro é chegado em novidades “malucas”. No Brasil desde 1998, a Swatch cresce nada menos do que 70% ao ano. Pudera. Com tantos acessórios à venda não é à toa que ver as horas virou mero pretexto para quem busca afinar os ponteiros com a moda.