19/09/2001 - 10:00
A pequena e pacata Chuí, no extremo Sul do Brasil, ganhou fama internacional na última semana. Separada apenas por uma rua de Chuy, no Uruguai, a cidade tem cerca de cinco mil habitantes, dos quais pelo menos mil são árabes palestinos. Na quarta-feira 12, rádios e televisões uruguaias noticiaram a “comemoração” da comunidade por causa dos atentados terroristas nos Estados Unidos e a notícia repercutiu. Mas, ao que tudo indica, o que os uruguaios chamaram de “carreata e bandeiraço nas ruas” não passou de fogos de artifício, “que durou alguns segundos”, como diz a reportagem publicada pelo jornal gaúcho Zero Hora. É ato costumeiro na cidade estourar fogos para comemorar aniversários, nascimentos e chamar a freguesia do comércio. “Qualquer jogo de futebol aqui é motivo para fogos”, diz o presidente da Sociedade Árabe Brasileira no Chuí, Abdel Alrahim Aljundi. Para a comunidade, a notícia da suposta comemoração é perseguição pura e simples. “Nunca falaram nada do Chuí, nós éramos insignificantes. De repente, somos culpados de um monte de coisa”, diz um membro da comunidade que não quis se identificar. Mas, para a Polícia Federal, a cidade não é tão insignificante para o resto do mundo quanto parece. Na prefeitura local, tem alguém muito preocupado com os holofotes atraídos pela polêmica.
O prefeito Mohamed Kassem Jomaa (PFL) é investigado pela PF. O Zero Hora também publicou um relatório no qual ele seria apontado como amigo do terrorista saudita Osama Bin Laden, suspeito de ser o mentor dos atentados contra Nova York e Washington. Segundo o relatório, o prefeito comandaria um esquema de lavagem de dinheiro para Bin Laden. O serviço de inteligência uruguaio também apura o envolvimento do prefeito em lavagem, tráfico de drogas e abrigo de árabes com passagem ilegal pelo Brasil. Jomaa é alvo de outra investigação: falsidade ideológica. Sua ex-esposa, a libanesa Nabhia Jomaa, diz que ele nasceu no Líbano, e não em São Paulo, como consta de sua certidão de nascimento supostamente falsa. Em maio deste ano, a PF vasculhou sua casa e a prefeitura para apreender documentos. “O que estão fazendo comigo é perseguição. A PF nem me chamou para prestar depoimento.” Jomaa, que tem um filho vivendo no Líbano, diz estar apreensivo: “Dizem que eu sou amigo do ‘homem’. É tudo mentira. Estou com medo de tudo”, afirma. Na quinta-feira 13, ele anunciou que procurou proteção policial.
O prefeito nega qualquer envolvimento com Bin Laden ou outros terroristas. No entanto, diz que abrigou a mulher e os três filhos de um egípcio preso no Uruguai. “Eu avisei a Polícia Federal sobre isso”, garante. O homem em questão é El Said Hassan Ali Mohamed Mukhlis, um terrorista egípcio capturado em Chuy, no lado uruguaio, em janeiro de 1999. Os Estados Unidos têm informações de que o prefeito Jomaa esteve com Mukhlis na região por, pelo menos, oito dias. Em uma reportagem da agência de notícias Knight Ridder sobre a presença de Mukhlis na região, o prefeito de Chuí é um dos entrevistados. No texto, ele conta que esteve com o terrorista: “Ele é mesmo um fanático”, comentou sobre Mukhlis.